sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Leni tem 15 obras escritas e participação em 17 coletâneas


Leni Chiarello Ziliotto é natural de Guaporé do Rio Grande do Sul. É filha de Erzelino Chiarello (agricultor) e de Maria Paula Tauffer Chiarello (professora). Casou-se com Altamir Ziliottto e teve quatro filhos Altamir Júnior, Fernanda, Camila (in memória) e Virginio. Leni é avô e tem cinco netos Arthur, André, Davi, Antonella e Afonso. Veio para o estado de Mato Grosso em 2011, e residiu em Nova Mutum. E desde 2014 mora em Sinop onde trabalhar. Temos residência em Lucas do Rio Verde, onde seu esposo mora e ela vai aos fins de semana.

Ela é formada em Biologia e Pedagogia. E possui especialização em Supervisão Escolar, em Ensino a Distância e em Educação Ambiental. É Mestre em Gestão e Auditoria Ambiental. Leni é curadora para exposições e coordenadora de projetos em audiovisual. Fundou a cadeira 21 na Academia Sinopense de Ciências e Letras, com Érico Veríssimo seu Patrono. Recebeu duas “Moções de Aplauso” e a “Comenda Colonizador Ênio Pepino” da Casa Legislativa de Sinop, e o título de “Cidadã Mato-grossense” da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, pela contribuição das suas obras à leitura, à literatura e à cultura mato-grossense.

A escritora possui 15 obras independentes publicadas. Tem participação em 17 coletâneas. Realizou a organização de 6 obras e tem quatro exposições. Iniciamos a entrevista perguntando a Leni Zilioto o que despertou em você o desejo de escrever?

“Penso que ser escritor, como toda a arte, é nato. Há possibilidades de aprimoramento, sim, ou deixar a arte nata morrer em você. Ou apenas fazer acontecer. Livre arbítrio. Eu decidi fazer a arte da literatura acontecer em minha vida, dedicando-me a aprimorá-la somente na última década, uma vez que a dedicação maior até então foi ao trabalho de educadora e aos estudos necessários para o sê-lo com qualidade. Ao mesmo tempo acredito que influencias na infância fortalecem o desejo de exercer sua arte. Lembro-me das aulas do meu professor nos anos iniciais da escola, sempre permeadas de histórias, os clássicos Chapeuzinho Vermelho, A Cinderela, A Lebre e a Tartaruga, e outros. Lembro, que à época, anos 70, as escolas do interior, no Rio Grande do Sul, recebiam das Secretarias de Educação os livros de leitura com um flanelógrafo e as imagens dos personagens em feltro, com lixa no seu verso, para o professor ir colocando as imagens no flanelógrafo à medida que ia contando a história. Um tipo de Youtube da época (risos). O dia que o professor contava história era meu dia preferido de aula”, contou Leni.

Perguntamos então quando e onde ela começou?

“Tenho registros em caderninhos e agendas desde meus 12 anos de idade, quando fui matriculada em um Colégio Confessional Católico em Casca, no RS, e com medo de que as freiras encontrassem meus poemas, eu escrevia poemas para Jesus. Já aos 15 anos tenho registros dos meus primeiros poemas de amor, de paixão, próprio de adolescente. Então, desde que me lembro, escrevo. Ao mesmo tempo, a cultura sulista de descendência italiana, pautada em valores mais preponderantes como estudar, trabalhar, ganhar bastante dinheiro, comprar sua casa, construir sua linda família. Essa cultura, além do contexto sul e descendência, tem a questão tempo/época, ou seja, anos 70 e início de 80. Por isso, eu estudei, cursei faculdade, me profissionalizei, me estabeleci como profissional da educação, casei, construímos nossa casa e tivemos nossos filhos. Tudo como manda o figurino. O que o figurino não dizia e eu mesmo assim fui fazendo, foi escrever. Aluna na faculdade, namorando, trabalhando, tendo os filhos, fui rabiscando agendas, cadernos, guardanapos de papel, onde eu pudesse, registrava meus pensamentos que me sufocavam e eu tinha que soltá-los para não explodir (ou implodir). Poemas. Basicamente poemas. Minha filha Fernanda e minha amiga Stela Maris, em um dos meus aniversários, me deram de presente um CD com músicas do John Lennon e um poema escrito na capa do CD. Ao ler o poema, fiquei intrigada, dizendo, “eu conheço esse poema, mas não lembro de quem é”. Até as duas revelarem que mexeram em meus escritos e decidiram colocar um poema meu na capa do CD. Disseram mais: “você deve publicar um livro com esses seus poemas”. Aquilo ficou latente até o dia que decidi, então, transformar os “rabiscos” em livro. Isso foi em 2001, quando lancei meu primeiro livro, Metamorfose, que foi traduzido para o italiano, Metamorfosi, na Jornada Nacional de Literatura em Passo Fundo, oportunidade que tive de fazer coro com Afonso Romano de Santana, Matha Medeiros, Marina Colassanti, Ziraldo e Inácio de Loyola Brandão. Acredito que com padrinhos desse gabarito, foi um início abençoado”, ressaltou ela.

Quais os maiores obstáculos que ela enfrentou?

“Primeiramente, como falei anteriormente, a cultura de uma sociedade organizada para olhar a arte como “não trabalho”. Ou seja, a necessidade de ter uma outra profissão desvinculada da arte da literatura para ser remunerada equivalente às necessidades básicas de quem constitui família, tem filhos, pretende ter sua casa própria, enfim. O segundo maior obstáculo é publicar as obras. O mercado editorial está organizado para publicar livros vendáveis, obras de pessoas famosas, ou temas polêmicos. Por exemplo, um livro de poemas é publicado por grandes editoras se a pessoa é famosa. O livro será vendido pelo autor, não pelos poemas. Entende? E ser publicado por uma grande editora seria a garantia de sucesso da sua obra. A dificuldade para pequenos e anônimos escritores é ser aceito pelos grandes selos editoriais. As pequenas editoras não têm grandes espaços nos grandes eventos literários e dependem de que o escritor pague pela publicação da sua obra. Uma gangorra que busca o equilíbrio entre editora e escritor. Refletindo a pergunta, percebo que são basicamente esses obstáculos do escritor: cultura social e mercado editorial. Entretanto, no advento da internet e intensificado pela pandemia 2020, o cenário está mudando porque o ciberespaço é gratuito. Então estamos vendo bastante pequenos escritores se destacando pela sua performance com as plataformas virtuais. O que vale dizer que é necessário ter competência para as novas tecnologias ou investir em alguém que o faça para você, além da habilidade literária”, salientou a escritora.

Onde ela busca inspiração para escrever seus livros e quantos ela já escreveu?

“Ao ler meus poemas escritos aos meus 12/13 anos, me faz acreditar que Platão me define um pouco quando diz que poeta é por vocação e não por formação. Haja vista Pablo Neruda e Vinicius de Moraes que, acredito tiveram a vocação e a formação pela leitura, não necessariamente acadêmica. Esses dois são meus gurus na poesia, além de Elisa Lucinda e Afonso Romano de Santana. Percebo que me identifico com eles, mas não os leio para escrever como eles. Ou seja, gosto do estilo deles, li e leio seus poemas, mas não os utilizo para escrever os meus poemas. É diferente, não sei bem explicar isso. Em 2006, quando viajei ao Chile, conheci os jardins e a casa (inclusive a parte interna) de Pablo Neruda, em Santiago; tem fotos do Vinicius na parede do escritório dele. Foi uma experiência quase que sagrada. Em meus livros biográficos, não há interferência minha; é fidedigno à entrevista dos personagens, em respeito à proposta: sua história de vida. Obviamente que eu dou um jeito de fazer a poesia aparecer, escrevendo um poema para a pessoa entrevistada. Até no meu livro infantil tem poesia. Também, arrisquei um estilo jornalístico em um livro encomendado por um padre sobre a devoção Nossa Senhora Mãe da Juventude. Não sei se deu certo; quem deve dizer é o leitor (risos). Agora, acredito que para responder efetivamente à pergunta que é sobre o processo de criação, devo dizer que eu leio, estudo, pesquiso, entrevisto, mas minha inspiração são três elementos básicos: a noite, a natureza e ambientes tipo cafés. A natureza, de dia, claro. Quando eu me conecto com a natureza, preciso estar munida de papel e caneta. E a noite, acompanhada por vinho tinto seco e chocolate, eu organizo as ideias, os estudos, as pesquisas, as inspirações, os Vinícius e os Nerudas que baixam em mim para produzir. Já os ambientes tipo cafés, muitos dos meus poemas foram produzidos nos cafés de Porto Alegre, e nos últimos tempos, de Sinop e de Lucas do Rio Verde. Por isso meu programa “Café com Leni”, que propõem uma conversa literária entre amigos em um café. Acredito que se eu tiver que ter meu escritório de escrita, funcionaria a noite ou ao ar livre, com muito verde ou mar. Ah, e com café ou vinho e música. Fundo musical de saxofone. Acho o saxofone um instrumento musical completo, inspirador, imponente e ao mesmo tempo suave. Um poema!”, destacou.

Algum dos teus livros te define? Se sim qual e conte por que?

“Respondi várias vezes à pergunta “qual é o preferido?”. Ao que respondi, que é como se perguntassem qual é meu filho preferido. Não há. Cada um é um e com seu igual valor e amor dedicado. Amo todos. Os brancos, os ruivos, os morenos, os de cabelo longo, os carecas, os calminhos, os hiperativos. Para quem tem filhos acredito que entenderá. Filho é filho. E livro é livro. Já, com qual me identifico, refletindo agora penso que a resposta não é tão distante, porque os poemas são meu oxigênio, não me imagino vivendo sem escrever poesia. Então, com todos os de poesia me identifico. Os “Carolinas” tem minha alma aberta ao público, onde deixo aparecer toda minha essência de mulher no contexto cultural anos 80 e 90. Os que versam sobre as mulheres, de Nova Mutum e de Sinop, me vejo representada nelas, em cada história, por mais que sejam mais de 100, em cada uma tem um pouco de mim e em todas tem meu sorriso e minhas lágrimas, pela vida que cada uma relatou e que viveu. E o que dizer do infantil? Lá estou eu, menina de trança, com seus medos, com suas fantasias, com sua inocência e sede de saber. Assim, me identifico com todos, pela essência de tudo o que escrevo em minhas obras. São vivas, fortes, incisivas. Não há como não me ver em cada uma delas, com suas especificidades”, expôs Zilioto.

Ao finalizar a entrevista pedimos então para ela deixar uma mensagem para aquelas pessoas que querem começar a escrever, que desejam ser escritores, escritoras o que fazer e como começar?

“Eu acredito e prezo pela boa escrita. Ou seja, que o escritor, no mínimo seja leitor. Eu lembro que ao entrar para a sexta série do ginásio, ao ter acesso a uma gigantesca biblioteca no colégio em Casca, eu devorava livros. Acredito que eu lia mais de 4 livros por mês. Lembro-me que em uma gincana escolar, o desafio era responder à pergunta: Quem é o autor do livro “Olhai os Lírios do Campo”? Eu me levantei na arquibancada onde havia mais de 500 alunos e, de forma natural, respondi: Érico Veríssimo! O ginásio fez silêncio, porque ninguém mais respondeu. Eu acredito que se não a única, eram poucos que sabiam responder. Lembro-me que à época até eu me surpreendi, porque eu achava que quase todos saberiam responder, ou seja, ler deveria ser um hábito de todos. Ao cursar ensino médio em Guaporé, também em uma grande escola de freiras e responsável pela biblioteca, eu lia coleções inteiras, especialmente os proibidos, como Jorge Amado (se a freira, Irmã Palmira, estiver ainda viva, saberá que infringi essa norma). Eram proibidos e eu deveria escondê-los para os alunos não lerem. Aí então que eu lia e dava para meus amigos lerem. O que eu quero dizer com isso, que a maior formação de um escritor, é a leitura. E depois, escrever. Já a publicação de obras, é outro capitulo da vida do escritor. Como falei, é o caminho pedregoso do mundo editorial. Mas, se eu puder dar meu conselho aqui, essa geração tem o bônus da internet. Vai para o ciberespaço e registra lá suas obras. Serem lidas e conhecidas, depende da sua competência de divulgação. Eu sou da geração do caderno e da caneta. Então tenho dificuldades com tecnologias. E se eu a quiser, preciso pagar por quem sabe fazer, e caio na mesma armadilha das editoras. Já a geração mais jovem, está com faca e queijo na mão. Ouse!”, concluiu a escritora.


2 comentários:

  1. Leni é dessas pessoas que a gente aprende admirar pelo significado e importância que ela oferece. Leni é uma líder natural da literatura brasileira e estimula a cada escritor anônimo a se tornar presente, a se tornar conhecido, se animar para sair do casulo.

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    1. Meu caro Aluisio, honrada e lisonjeada com suas palavras. Aluisio também é escritor e músico, uma pessoa de grandeza de alma e que com certeza está no planeta para somar. Um beijo, meu amigo de letras e artes.

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