domingo, 26 de março de 2017

Democracia e liberdade de pensamento como instrumentos para a manutenção emocional e intelectual das crianças



JOHN DEWEY

 O professor que desperta entusiasmo em seus alunos conseguiu algo que nenhuma soma de métodos sistematizados, por mais corretos que sejam, pode obter. 

A meta da vida não é a perfeição, mas o eterno processo de aperfeiçoamento, amadurecimento, refinamento.

John Dewey nasceu em 1859 em Burlington, uma pequena cidade agrícola do estado norte-americano de Vermont. Na escola, teve uma educação desinteressante e desestimulante, o que foi compensado pela formação que recebeu em casa. Ainda criança, via sua mãe confiar aos filhos pequenas tarefas para despertar o senso de responsabilidade. Foi professor secundário por três anos antes de cursar a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Estudou artes e filosofia e tornou-se professor da Universidade de Minnesota. Escreveu sobre filosofia e educação, além de arte, religião, moral, teoria do conhecimento, psicologia e política. Seu interesse por pedagogia nasceu da observação de que a escola de seu tempo continuava, em grande parte, orientada por valores tradicionais, e não havia incorporado as descobertas da psicologia, nem acompanhara os avanços políticos e sociais. Fiel à causa democrática, ele participou de vários movimentos sociais. Criou uma universidade-exílio para acolher estudantes perseguidos em países de regime totalitário. Morreu em 1952, aos 93 anos. 

Quantas vezes você já ouviu falar na necessidade de valorizar a capacidade de pensar dos alunos? De prepará-los para questionar a realidade? De unir teoria e prática? De problematizar? Se você se preocupa com essas questões, já esbarrou, mesmo sem saber, em algumas das concepções de John Dewey, filósofo norte-americano que influenciou educadores de várias partes do mundo. No Brasil inspirou o movimento da Escola Nova, liderado por Anísio Teixeira, ao colocar a atividade prática e a democracia como importantes ingredientes da educação. 

Dewey é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como pragmatismo, embora ele preferisse o nome instrumentalismo - uma vez que, para essa escola de pensamento, as ideias só têm importância desde que sirvam de instrumento para a resolução de problemas reais. No campo específico da pedagogia, a teoria de Dewey se inscreve na chamada educação progressiva. Um de seus principais objetivos é educar a criança como um todo. O que importa é o crescimento - físico, emocional e intelectual. 

O princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. Atividades manuais e criativas ganharam destaque no currículo e as crianças passaram a ser estimuladas a experimentar e pensar por si mesmas. Nesse contexto, a democracia ganha peso, por ser a ordem política que permite o maior desenvolvimento dos indivíduos, no papel de decidir em conjunto o destino do grupo a que pertencem. Dewey defendia a democracia não só no campo institucional mas também no interior das escolas.

Estímulo à cooperação
Influenciado pelo empirismo, Dewey criou uma escola-laboratório ligada à universidade onde lecionava para testar métodos pedagógicos. Ele insistia na necessidade de estreitar a relação entre teoria e prática, pois acreditava que as hipóteses teóricas só têm sentido no dia-a-dia. Outro ponto chave de sua teoria é a crença de que o conhecimento é construído de consensos, que por sua vez resultam de discussões coletivas. "O aprendizado se dá quando compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático, onde não haja barreiras ao intercâmbio de pensamento", escreveu. Por isso, a escola deve proporcionar práticas conjuntas e promover situações de cooperação, em vez de lidar com as crianças de forma isolada.

Seu grande mérito foi ter sido um dos primeiros a chamar a atenção para a capacidade de pensar dos alunos. Dewey acreditava que, para o sucesso do processo educativo, bastava um grupo de pessoas se comunicando e trocando ideias, sentimentos e experiências sobre as situações práticas do dia a dia. Ao mesmo tempo, reconhecia que, à medida que as sociedades foram ficando complexas, a distância entre adultos e crianças se ampliou demais. Daí a necessidade da escola, um espaço onde as pessoas se encontram para educar e ser educadas. O papel dessa instituição, segundo ele, é reproduzir a comunidade em miniatura, apresentar o mundo de um modo simplificado e organizado e, aos poucos, conduzir as crianças ao sentido e à compreensão das coisas mais complexas. Em outras palavras, o objetivo da escola deveria ser ensinar a criança a viver no mundo. 

"Afinal, as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo", ensinou, argumentando que o aprendizado se dá justamente quando os alunos são colocados diante de problemas reais. A Educação, na visão deweyana, é "uma constante reconstrução da experiência, de forma a dar-lhe cada vez mais sentido e a habilitar as novas gerações a responder aos desafios da sociedade". Educar, portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos. É incentivar o desejo de desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para transformar algo. 

A experiência educativa é, para Dewey, reflexiva, resultando em novos conhecimentos. Deve seguir alguns pontos essenciais: que o aluno esteja numa verdadeira situação de experimentação, que a atividade o interesse, que haja um problema a resolver, que ele possua os conhecimentos para agir diante da situação e que tenha a chance de testar suas ideias. Reflexão e ação devem estar ligadas, são parte de um todo indivisível. Dewey acreditava que só a inteligência dá ao homem a capacidade de modificar o ambiente a seu redor.

Liberdade intelectual para os alunos
A filosofia deweyana remete a uma prática docente baseada na liberdade do aluno para elaborar as próprias certezas, os próprios conhecimentos, as próprias regras morais. Isso não significa reduzir a importância do currículo ou dos saberes do educador. Para Dewey, o professor deve apresentar os conteúdos escolares na forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão respostas ou soluções prontas. Em lugar de começar com definições ou conceitos já elaborados, deve usar procedimentos que façam o aluno raciocinar e elaborar os próprios conceitos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado. Pode-se afirmar que as teorias mais modernas da didática, como o construtivismo e as bases teóricas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, têm inspiração nas ideias do educador.

Para pensar
Uma das principais lições deixadas por John Dewey é a de que, não havendo separação entre vida e educação, esta deve preparar para a vida, promovendo seu constante desenvolvimento. Como ele dizia, "as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em outro, vivendo". Então, qual é a diferença entre preparar para a vida e para passar de ano? Como educar alunos que têm realidades tão diferentes entre si e que, provavelmente, terão também futuros tão distintos?

Priscila Ramalho
http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/john-dewey-307892.shtml
John Dewey, Filósofo e Pragmatista

John Dewey (1859-1952) graduou-se em 1879 e exerceu as funções de professor secundário durante dois anos, tempo em que desenvolveu um profundo interesse por Filosofia. Em setembro de 1882, deixou o ensino e retomou os estudos de Filosofia na Universidade Johns Hopkins, onde obteve o doutoramento, com uma tese sobre a ‘psicologia’ de Kant.

Dewey exerceu a função de professor de Filosofia na Universidade de Michigan, onde ensinou a partir de 1884. Três anos mais tarde publicou seu primeiro livro, Psychology, onde propôs um sistema filosófico que conjugasse o estudo científico da psicologia com a filosofia clássica alemã.

Esse livro foi importante para o passo seguinte da carreira de Dewey, o cargo de professor de Filosofia Mental e Moral na Universidade de Minnesota, que assumiu em 1888. No ano seguinte, porém, regressou à Universidade de Michigan para se tornar chefe do Departamento de Filosofia. Em 1894 saiu de Michigan para a recém-criada Universidade de Chicago, onde logo passaria a liderar os departamentos de Filosofia e de Pedagogia, este criado por sua sugestão.

No final da década de 1890, Dewey começou a afastar-se da sua visão basicamente neo hegeliana e a adotar uma nova posição, que viria a ser conhecida mais tarde como pragmatismo.

Depois de problemas na política interna do Departamento de Educação da Universidade de Chicago, Dewey abandonou a instituição para se ligar à Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde permaneceu até ao fim da sua carreira no ensino, em 1930. Continuou, no entanto, a ensinar como Professor Emérito até 1939, e continuou a escrever e a intervir socialmente até às vésperas da morte.

John Dewey é reconhecido como um dos fundadores do pragmatismo norte-americano (juntamente com Charles Sanders Peirce, William James e George Mead), e como representante principal do movimento da educação progressista (ou progressiva) norte-americana durante a primeira metade do século XX. Entre suas obras se destacam: Reconstrução em Filosofia, Experiência e Natureza, A Busca da Certeza, Arte como Experiência, O Público e seus Problemas, e Democracia e Educação.

Filosofia, Educação e Democracia
Como se pode ler em Democracia e Educação, Dewey tentou sintetizar, criticar e ampliar as filosofias da educação democrática ou protodemocrática contidas em Rousseau e Platão. Viu em Rousseau a valorização do indivíduo, enquanto Platão acentuava a influência da sociedade na qual o indivíduo se inseria. Dewey contestou esta distinção. Tal como Vygotsky, ele concebeu o conhecimento e o seu desenvolvimento como um processo social, integrando os conceitos de sociedade e indivíduo. Para ele, o indivíduo somente passa a ser um conceito significativo quando considerado como parte inerente de sua sociedade. Esta, por sua vez, nenhum significado teria sem a participação dos seus membros individuais. Depois, como reconhece na obra posterior Experiência e Natureza, o empirismo subjetivo da pessoa é que realmente introduz as novas ideias revolucionárias no conhecimento.

Para Dewey era de vital importância que a educação não se restringisse à transmissão do conhecimentos como algo acabado – mas que o saber e habilidade adquiridos pelo estudante pudessem ser integrados à sua vida como cidadão, como pessoa.

No laboratório-escola que dirigiu junto com sua esposa Alice, na Universidade de Chicago, as crianças bem novas aprendiam conceitos de física e biologia, presenciando os processos de preparo do lanche e das refeições, que eram feitos na própria classe. Essa ligação entre ensino e prática cotidiana foi sua grande contribuição para a escola filosófica do Pragmatismo. Mas essa iniciativa pedagógica durou apenas três anos, e Dewey teve de deixar Chicago. Criou, então, a famosa Lincoln School, em Manhattan (Nova Iorque), que também durou pouco tempo.

Sua ideias, bastante populares, nunca foram ampla e profundamente integradas nas escolas públicas norte-americanas, embora alguns dos valores e premissas tenham se difundido. Suas ideias de “Educação Progressiva” foram duramente perseguidas no período da Guerra Fria, quando a preocupação dominante era criar e manter uma elite intelectual, científica e tecnológica, para fins militares. No período pós-Guerra Fria, entretanto, os preceitos da Educação Progressiva ressurgiram na reforma de muitas escolas, e o sistema teórico de educação formulado a partir das pesquisas de Dewey tem evoluído.

Dewey é conhecido nos Estados Unidos como um filósofo ‘radical’, profundamente engajado, na teoria e na prática, na luta política e social do seu tempo, em movimentos sociais e em experiências de organização social e política, com posições democrático- radicais, sociais-democratas e mesmo socialistas.

Dewey e o Pragmatismo Filosófico Norte-Americano
John Dewey fundou e conduziu a Escola Pragmatista de Chicago durante os dez anos em que esteve nesta universidade, de 1894 a 1904, um grupo que incluía George H. Mead, pragmatista, representante do socialismo simbólico, em sociologia e psicologia social.

Dewey é uma das três figuras centrais do pragmatismo nos Estados Unidos, ao lado de Charles Sanders Peirce (que re-significou o termo após a leitura da antropologia prática de Immanuel Kant), e William James (que popularizou a concepção pragmatista e a desenvolveu em contato com a filosofia francesa da época e com o pensamento de Stuart Mill). Mas Dewey não chamava sua filosofia de pragmatista, preferindo para ela o termo “instrumentalismo”.
Sua linha filosófica era de influência fortemente hegeliana e neo-hegeliana, mas também, como no caso dos outros dois pais fundadores, de influência empirista e utilitarista.

Assim como houve um ressurgimento da filosofia progressista da educação, as contribuições de Dewey para a filosofia (afinal ele era muito mais filósofo do que pedagogo) também voltaram à baila, a partir dos anos 1970, com pensadores como Richard Rorty, Richard Bernstein e Hans Joas. Mas também Putnam e Habermas.

Por causa de seu processo de orientação e visão sociologicamente conscientes do mundo e do conhecimento, muitas vezes Dewey é tido como alternativa válida a dois modos de pensar – o moderno e o pós-moderno -, mesmo sendo-lhes contemporâneo. No Brasil, Dewey teve considerável influência filosófica, pedagógica e política sobre Anísio Teixeira, entre outros intelectuais brasileiros críticos e progressistas.

https://deweypragmatismo.wordpress.com/sobre-john-dewey/

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