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A proposta de
relacionar modelos de democracia à prática cotidiana dos conselhos organizados pela
sociedade brasileira nas últimas décadas a fim de implementar ações “socialmente
justas”, requer uma análise aprofundada dos conceitos básicos de cidadania, de
democracia e de conselhos. Mesmo sem conhecimento aprofundado dos conceitos, parece
evidente que a atividade política deve buscar alternativas com vistas a
satisfazer as demandas que lhe são dirigidas, tanto por atores externos como os conselhos, como pelos próprios atores políticos, e articular os apoios necessários
para essa atuação.
O processo de constituição
de uma política pública seria facilitado se seguisse a uma lógica linear que se
inicia pela identificação de um problema, seguido de formulação de alternativas
de solução para a tomada de decisão que, implementada, acaba com o problema.
Mas o fato é que o processo pode produzir novas demandas que deverão ser
transformadas em problemas. Por isso, quando se analisa um contexto social para
levantar problemas, há de se considerar a dinâmica do processo de gestão
pública.
Existem situações, por exemplo, que perduram por muito tempo, incomodando grupos e pessoas e gerando insatisfações sem chegar a mobilizar as autoridades governamentais. Trata-se de um “estado de coisas” - algo que incomoda, prejudica, gera insatisfações, mas não chega a constituir um item da agenda governamental. Considerando esse “estado de coisas” um problema recorrente a ponto de se tornar regra geral, pressupõe que esse "estado de coisas" não faz parte da agenda governamental como um "problema político". pressupóe ainda que a atuação dos fiscais da gestão pública, a sociedade civil, especialmente a organizada, como os conselhos, é ineficiente.
Nova
Mutum é um município jovem no interior de Mato Grosso. Completou 25 anos de
emancipação político-administrativa dia 4 de julho do corrente ano. A
identidade cultural de Nova Mutum é a “multiculturalidade” por ter sido e
continuar sendo constituída por migrantes de todas as regiões brasileira, com
forte destaque às regiões sul e sudeste. Fazendo uma pesquisa informal com jovens
locais, entre as diversas manifestações sobre “problemas de Nova Mutum”, pinçamos
o das praças públicas, apontadas pelos manifestantes como lugar de consumo e
tráfico de drogas e, por isso, lugar de violência, prostituição, insegurança.
Percebe-se que, em Nova Mutum, as praças deixam de desempenhar sua função natural
que é de ser um espaço livre, de bate papo, reencontro, lazer, meditação, etc.,
para se tornarem palco de ponto de drogas e até mesmo de prostituição. Pode-se
afirmar que em sua maioria, as praças de Nova Mutum se reduziram a espaços sem representatividades de convívio social para a maioria dos
munícipes.
Assim
sendo, propõe-se para Nova Mutum uma ampla discussão sobre os temas drogas,
prostituição e juventude e, com isso, contribuir para a construção de uma base sólida de
sustentação da proposta de “repaginar” as praças do município. Ou seja, se faz
mister uma reocupação desses espaços para que a sociedade mutuense possa
resgatá-los como lugares públicos, condição determinante à construção de uma
cidadania participativa.
Pode-se tomar as manifestações
artísticas e culturais de um povo como expressão de ideias e ideais e propor a
contribuição das entidades culturais constituídas em Nova Mutum com a manutenção e gestão das praças. As entidades já constituídas e ativas em
Nova Mutum são: o Centro de Tradições Gaúchas – CTG; o Centro de Cultura Matogrossense
– CCM; o Centro de Tradições Nordestinas – CTN; a Comunitá Italiana de Nova
Mutum – CINM; a Associação dos Alemães de Nova Mutum; o Centro de Convivência
do Idoso; os representantes das culturas afrodescendente e japonesa, também
presentes no município, porém sem entidade representativa. Mais recentemente e em pequeno número, chegaram a Nova Mutum haitianos, que, entrevistados, demonstraram vontade de mostrar sua cultura.
A proposta é que cada entidade assuma uma
praça, construa esculturas típicas, minimuseu histório e cultural, espaços de convivência, de festas e de desenvolvimento de atividades com crianças e adolescentes no contra-turno escolar. A entidade seria responsável pela implementação, pela manutenção e pelo controle do espaço, em parceria com o poder público municipal, oportunizando uma convivência social sadia. Os
conselhos poderiam ser o elo de ligação entre as entidades e os governantes municipais
a fim de viabilizar essa proposta, uma vez que aponta para a solução do
problema de drogas, violência e prostituição nas praças de Nova Mutum, além de ressaltar a
identidade do município: multiculttural.
Também, eventos culturais e artísticos poderiam fazer parte da agenda cultural e turística de Nova Mutum, favorecendo uma “economia criativa” e a ampliação do temário turístico de Nova Mutum, hoje focado somente no turismo tecnológico e de eventos.
Também, eventos culturais e artísticos poderiam fazer parte da agenda cultural e turística de Nova Mutum, favorecendo uma “economia criativa” e a ampliação do temário turístico de Nova Mutum, hoje focado somente no turismo tecnológico e de eventos.
Conforme apontam Marques e Aro (2013), há de se ter um entendimento
claro e objetivo de como operam as instancias federativas e seus governos e de
como os conselhos podem atuar para influir nas decisões e ações públicas, com
ética, responsabilidade, eficiência, eficácia e efetividade rumo à qualidade de
vida dos cidadãos. Esse parece ser um dos caminhos possíveis para fazer com que
um “estado de coisas” se torne um “problema políticos” e venha a ser incluído
na agenda governamental.
REFERÊNCIAS
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