quarta-feira, 17 de outubro de 2012


TRÍPTICO DO MEU TEMPO

Lizete Abrahão

ONTEM

Ontem, deixei de ouvir os astros

Que me diziam de mares e de alegria...

Nem quis ver as cores do meu dia,

Entre as nuvens e os meus rastros...

Ontem, deixei de ver brotar a aurora

Que me dizia de luzes e de infinitos...

Nem quis saber dos amores benditos,

Entre a tarde e o sol a ir-se embora...

Ontem, não quis sentir o tom da brisa

Que me soprou um verso de procura...

Nem quis reparar na imensa ternura,

Entre a onda e o vento que a alisa...

Ontem, eu só quis saber da tua lembrança

Que me habita os olhos, feita esperança.

***

HOJE

Hoje, eu não quero sons de fanfarras

Que me tonteiem, me distraiam de mim...

Não quero esse luzir de metais, sem fim,

Entre meu eu e minhas densas amarras...

Hoje, não direi de canções ao universo

Que se eterniza em mim, enquanto vida...

Não vou dizer de sóis ou noite perdida,

Entre o crepúsculo e o primeiro verso...

Hoje, eu não quero mais esse lamento

Que se me acorrenta com sua voragem...

Não vou querer me perder desta viagem,

Entre os meus sonhos e o que eu tento...

Hoje, quero esse tempo sem lembranças

Que chega, assim, preso em esperanças.

***

Amanhã

Amanhã, quero desatar laços de dor

Que me conduzem por obscuros traços...

Despertarei a harmonia dos abraços,

Entre nossos corpos quando no amor...

Amanhã, não há de ser mudo o grito

Que, nas noites de solidão, me abate...

Ouvirei meu próprio eco no combate,

Entre meu eu e o que não tenho dito...

Amanhã, descerrarei os véus dos mitos

Que, no ócio do mundo, deuses se fazem...

Divinizarei pecados que ocultos jazem,

Entre mim e meus desejos proscritos...

Amanhã, serei em seda, finas tranças,

Entre teu corpo e onde deito esperanças.

Agosto, 2004

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