TRÍPTICO DO MEU TEMPO
Lizete Abrahão
ONTEM
Ontem, deixei de
ouvir os astros
Que me diziam de
mares e de alegria...
Nem quis ver as cores do meu dia,
Entre as nuvens e
os meus rastros...
Ontem, deixei de
ver brotar a aurora
Que me dizia de
luzes e de infinitos...
Nem quis saber dos
amores benditos,
Entre a tarde e o
sol a ir-se embora...
Ontem, não quis
sentir o tom da brisa
Que me soprou um
verso de procura...
Nem quis reparar na
imensa ternura,
Entre a onda e o
vento que a alisa...
Ontem, eu só quis
saber da tua lembrança
Que me habita os
olhos, feita esperança.
***
HOJE
Hoje, eu não quero
sons de fanfarras
Que me tonteiem, me
distraiam de mim...
Não quero esse
luzir de metais, sem fim,
Entre meu eu e
minhas densas amarras...
Hoje, não direi de
canções ao universo
Que se eterniza em
mim, enquanto vida...
Não vou dizer de
sóis ou noite perdida,
Entre o crepúsculo
e o primeiro verso...
Hoje, eu não quero
mais esse lamento
Que se me acorrenta
com sua voragem...
Não vou querer me
perder desta viagem,
Entre os meus
sonhos e o que eu tento...
Hoje, quero esse
tempo sem lembranças
Que chega, assim,
preso em esperanças.
***
Amanhã
Amanhã, quero
desatar laços de dor
Que me conduzem por
obscuros traços...
Despertarei a
harmonia dos abraços,
Entre nossos corpos
quando no amor...
Amanhã, não há de
ser mudo o grito
Que, nas noites de
solidão, me abate...
Ouvirei meu próprio
eco no combate,
Entre meu eu e o
que não tenho dito...
Amanhã, descerrarei
os véus dos mitos
Que, no ócio do
mundo, deuses se fazem...
Divinizarei pecados
que ocultos jazem,
Entre mim e meus
desejos proscritos...
Amanhã, serei em
seda, finas tranças,
Entre teu corpo e
onde deito esperanças.
Agosto, 2004
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