terça-feira, 24 de agosto de 2010

Bullying
Escrito por Leni Chiarello Ziliotto. Quarta-feira, 18 de agosto de 2010 -19:18


Não há mais necessidade de se repetir o que é buylling, no cyberespaço. Facilmente o leitor que se interessar saberá mais detalhes dando alguns clicks no mouse.

Transcrevo o que encontrei no primeiro click que dei, o http://pt.wikipedia.org, enfatizando a necessidade de outras e mais complexas leituras para quem quiser aprofundar-se no tema. Aqui, ele é trazido a titulo de conceito.

Ocuparei este espaço para fazer uma breve análise, sob meu ângulo de visão.

Estou participando, há um mês, de uma maratona de palestras para comunidades da região onde resido – serra gaúcha – contando com a participação de uma profissional da área da psicologia e com a colaboração daquelas secretarias municipais de educação que se preocupam em instrumentalizar os profissionais da área da educação para lidarem com questões polêmicas que se apresentam nas escolas, como desafios, entre elas o bullying.

Percebo o bullying como mais um componente negativo em todos os ambientes, entre eles o escolar. Cada ambiente precisa encontrar instrumentos válidos que proporcionem resultados no sentido de se minimizarem, ou mesmo eliminarem, os efeitos nocivos dessa atitude.

Nos meus vinte e três anos de experiência, como gestora da educação, como coordenadora de práticas pedagógicas e como professora de sala de aula, percebo que a postura dos profissionais da educação não mudou muito: a grande maioria tem ânsia, às vezes desesperada, por uma “receita” que os ajude a “eliminar” os problemas, sejam eles de aprendizagem – dificuldades de aprendizagem – ou de ordem comportamental, como os casos do bullying.

Em palestras, conferências e cursos de formação de que participei, os ministrantes disseram que em educação não há receitas. Discordo. Há sim. Em todas as profissões, pode-se dizer que os instrumentos de trabalho mais o modo de fazer não deixa de ser uma receita. Ou seja, não se pode dizer que para dar uma boa aula seja preciso levar para a sala de aula um trator, com ar-condicionado e música, e que eu deva dirigir com cuidado em terrenos com declive. Tenho a certeza de que é necessário ensinar, aos futuros professores, a receita de “dar uma boa aula”.

A questão não está em ter ou não receita. Ela existe, e são os recursos – os ingredientes – e o modo de fazer. Isso já caracteriza receita. O que percebo é a deficiência de mestres para fazerem uso dessas receitas e passá-las adiante e a incompetência dos profissionais que buscam a área da educação. Percebo também que essa deficiência para formar profissionais está na falta de experiência. Temos muitos “mestres de teoria”, que não têm convicção do que estão ensinando, por falta de prática, porque pouco ou nunca “fizeram o bolo”, por isso muitos usam a bengala do “não há receitas”. A má qualidade dos que atuam na área e a falta de profissionais que busquem trabalhar com educação estão calcadas em vários fatores, dentre os quais destaco dois de grande relevância: a falta de estímulo e a distância entre a teoria e a prática.

Porém, como meu assunto aqui é a questão do bullying, para fazer a ligação com o que foi dito anteriormente, devo dizer que, em todas as situações que envolvem o ser humano, há dois elementos básicos: os atores e o cenário/ambiente.

Particularmente, muito mais pela experiência em sala de aula do que pela experiência de gestora ou de coordenadora pedagógica, estou convicta de que se dá muito mais atenção aos elementos do que, para não dizer nenhuma, ao ambiente. Alguém já ouviu a expressão “Isso não é comigo!”? Se alunos da professora Maria estão arrancando os cabelos uns dos outros, o assunto não é da professora Vera.

Pois bem, vamos aos elementos na questão bullying. Os atores são a vítima e o agressor. E se tem o ambiente, ou seja, a soma do contexto escolar com o ambiente fora da escola dos atores como um todo. Deverá ser assunto da professora Maria e da professora Vera, independentemente dos atores envolvidos.

A tendência é punir o agressor, quando este não consegue se fazer de vítima, e a escola, por falta de um trabalho em nível de “ambiente escolar”, acaba punindo a verdadeira vitima. Não se obterão resultados positivos punindo. Toda punição gera vingança. Em consequência, mais violência.

Ambiente! Esse deve ser o foco, um ambiente de energia positiva, que envolva os alunos com arte, com esportes, com pesquisa, com provocação da curiosidade, com delegação de responsabilidade, inclusive e principalmente para desvendar as entranhas dos diversos e diferentes conhecimentos já elaborados e provocar produção de novos conhecimentos. É preciso envolver os alunos em ações de responsabilidade, de autonomia, de solidariedade, de beleza, de sensibilidade. Enfim, há tanta coisa positiva como recurso neste tempo de novas tecnologias. O que se precisa é atentar para o “modo de fazer”. E esse também tem receita. Ou não? Experimente ir para a sua aula, hoje, com a cara amassada, sem planejamento, com vontade de estar em outro lugar, menos ali dando aquela aula. É uma receita. Vá para a sua aula como se fosse a única, que foi planejada para seres humanos que amanhã serão responsáveis pela gestão da sociedade em que você será um velho, com energia para provocar os alunos a produzirem o máximo de suas capacidade. É outra receita. Ou não? E o modo de fazer é que faz o ambiente.

Finalizo, chamando a atenção, mais uma vez, para a necessidade da macro e da microvisão: ambiente escolar e ambiente de cada aluno fora da escola. Não é sem função que as teorias da aprendizagem estão usando com bastante frequência a expressão “visão holística”. Ela é fundamental para um profissional da educação planejar sua prática pedagógica e obter resultados positivos.

Coloquei aqui minha situação de palestrante sobre o tema bullying como ilustração. Uma vez que não estou mais em sala de aula, faço pesquisas e observações, mas tenho minha experiência de sala de aula com argumentos suficientes para ter convicções acerca de diversas questões, ente elas, a de o ambiente escolar ser peça-chave para os processos se desenvolverem e se obterem, como já foi dito antes, resultados e resultados positivos.

Por isso anexo, a este meu texto, o artigo “O Estúpido”, de Luciano Pires, para provocar uma reflexão sobre “ambiente”. A sociedade que tem essa prática, esse ambiente, cobra da escola e a critica, alegando que não dá conta da “violência na escola”. Como está nosso ambiente social?

Minha análise não é de critica em relação à postura de Luciano, pelo contrário, provoco o leitor para que reflita sobre uma sociedade que se apresenta como democrática, ao mesmo tempo em que nos obriga a dizer amém, em nome da educação e do respeito.

Hipocrisia!


Leni Chiarello Ziliotto




O estúpido

Escrito por Luciano Pires em Qui, 12 de Agosto de 2010 19:18 e disponível no site


Num artigo recente, critiquei um cliente que armou um barraco no banco onde eu estava sendo atendido. Falei do cliente bom. Pois agora é hora de tratar do outro lado...

Era a quarta vez que minha filha ia até a loja da Nextel, para tentar cancelar uma linha, num processo que se arrastava desde abril (e já era agosto). O Call Center dizia uma coisa, a loja, outra - e eu pagando. Uma confusão. Então ela me liga. O atendente exigia que eu pagasse mais uma conta além das duas que já pagara, mesmo sem usar o aparelho. Achei que era demais e pedi para falar com o sujeito. A resposta foi surpreendente:- Pai, ele não pode falar no celular.

Eu ouvia a voz do fulano falando com ela, negando-se a atender. Meu sangue subiu. Pedi o número do telefone da loja, e nada. A regra era: só se eu ligasse para o Call Center. O atendente estava proibido de falar com o cliente pelo telefone! Tive de parar o que estava fazendo e ir pessoalmente falar com o fariseu. E minha filha ouviu:

- Seu pai não vem aqui, nervoso, pra discutir um assunto sobre o qual a Nextel tem razão, vem?

Fui.

Chutei o pau da barraca, falei alto, gritei dois palavrões saborosos e dei um tapa na mesa. Todo mundo olhando pra ver quem era o barraqueiro, enquanto minha filha se escondia debaixo da mesa. O atendente tentava acalmar a situação, falando baixo e com educação. E eu no barraco. Resultado? Ele acessou o “sistema”, ficou 15 minutos digitando e fez tudo o que havia dito para minha filha que era impossível. Saí da loja vinte minutos depois com tudo resolvido e a Gabi dizendo:

- Meu herói!

Catzo! Pra que isso, hein? Por que o sujeito não resolveu o assunto diante da garota que, educadamente, pedia por favor? Sem estresse? Não. Ele seguiu as regras que protegem a empresa, ferram o cliente e que só são quebradas quando armamos o barraco.

Tempos atrás, conversei com um profissional de empresa aérea e perguntei como eles lidavam com o público naqueles momentos do caos aéreo. Ele me disse que a instrução era de que atendessem logo os clientes mais exaltados. Os barraqueiros.

Nunca fui barraqueiro, longe disso. Mas quando ouvi a voz do sujeito recusando-se a falar ao telefone, não deu. Virei um cliente grosso, mal educado, violento... estúpido! Algo que eu não sou.

E então percebi: as companhias aéreas, telefônicas, tevês a cabo, bancos, provedores de internet, concessionárias, planos de saúde, consórcios, construtoras, seguradoras... das quais fui cliente até hoje, agiram como o Doutor Frankenstein: pedaço a pedaço transformaram um “cliente bom” numa criatura. Ao longo dos anos, juntaram uma sacanagem aqui com uma enganação ali, um coice acolá com um atendimento burro alhures, uma má vontade com uma esnobada, uma cobrança indevida com uma promessa não cumprida.

E, aos poucos, fizeram de mim um monstro. Pois agora que se virem pra lidar com ele.


Luciano Pires, o estúpido.

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