Andar dez
quilômetros por dia
para
estudar.
Andar
dez quilômetros por dia
para
ensinar.
Escrever
em folhas de bananeiras.
Escrever
com carvão.
Olhar
para o céu e pedir uma mão.
O Estado
não vem.
O Estado
é alguém.
O Estado
sofre também!
Ele é
jurado.
Ele é
julgado.
O
Estado.
Coitado.
Coitado
de mim que devo morrer,
porque
não sou ninguém sozinho.
Não me
dou bem sem escola.
Não
sirvo para nada sem dar um duro danado.
Devo
morrer porque preciso comer.
E comer
custa caro.
Ser
exemplo de superação é legal.
É
fenomenal.
É ...
... mais
para o Estado!
Onde
mora o Estado?
Quantos
filhos o Estado tem?
Com quem
é casado?
Posso
ser amigo do Estado?
Concluí
o ensino básico. Tenho diploma.
Sou
analfabeto.
O
“vagabundo” não ensinou, só queria salário.
Ele
devia ter-me ensinado só com a imaginação.
Não
precisava recursos. Afinal, todos aprendem.
É só
ensinar. Só!
O Estado
é professor?
Dos
bons!
Ele até
transformou
o
jeitinho provisório de dar aulas
em
padrão consolidado.
Economizou.
Economizou
sabedoria!
Tem
problema não.
Professor
(vagabundo) é forte.
Aguenta
a responsabilidade
pelo
sucesso ou pelo fracasso
das
políticas do Estado.
Os
recursos são necessários
aos
filhos do Estado,
aos
amigos do Estado,
à
família do Estado.
Tadinho
do Estado, está fraco.
Cada um
deve fazer a sua parte.
O Estado
pede.
E se
você é pobre, a culpa é sua.
Você não
estudou.
Você não
trabalhou.
Há
trabalho (assalariado) sobrando.
Quanto é o salário do Estado?
E dos filhos do Estado?
E dos filhos do Estado?
E dos
amigos do Estado?
É pecado
cobiçar.
Não
queira o que é do rico.
Salve
sua alma.
Vá
estudar.
Vá
trabalhar.
Deus vai
recompensar.
A
escola?
Entrei
em uma delas
porque
ouvi dizer
que lá
eu ia aprendera a pensar.
Que
depois dela eu iria me libertar.
Enquadraram-me!
Mas eu
devo morrer.
Não
consigo sobreviver.
Até
aprendi o significado de subverter.
Falta-me
poder.
Mudar de
vida?
Morrer!
Leni, 2016.
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