Os sonhos às vezes tomam emprestadas as partes mais
inverossímeis do concreto para compor uma realidade aberta no tempo e no espaço
e porosa para as irrealidades circundantes. Muito mais vezes a realidade é quem
toma emprestado ao sonho às cores, que jorram com rebeldes desafios às imagens,
e as figuras, de intrincados surpreendentes e capazes de reinventar de modo
contínuo as paisagens.
À síntese completa
entre a irremediável crueza do fato e a amplitude plástica do onírico
costumamos chamar de poesia.
Mas os poemas
também brotam das imagens onde se tenha derramado sobre os traços e as tintas
algumas lágrimas ou alguns sentimentos até então amordaçados.
Assim podem, as
imagens, ser tão somente pinturas de sonhos e, então, fechar o circuito
virtuoso da voz da alma à qual faltavam contornos e cores e dos derrames de
imagens que nasceram sem legenda ainda que tanto tivessem para dizer.
Mal entreabertas
as próximas páginas vereis emergir os traços e os diáfanos de Maria Amélia
Arroque Gheller, as cores derramadas da ânfora das emoções de Adriano
Figueiredo Ferreira e os ecos de gritos e silêncios nos versos túrgidos de amor
de Leni Chiarello Ziliotto. As vozes e imagens que desdobrareis quadro a
quadro, ainda que parte do sonho seja, cortam até as profundezas a realidade.
Preparai-vos, pois, para chegar ao fim desta senda com respingos até o núcleo
sólido da alma...
Dr. Roberto Mauro Arroque
Escrever é humanizar.
É libertar o homem
dele mesmo.
APRESENTAÇÃO
A
evolução do homem implica aperfeiçoar as aptidões de interação com o meio envolvente
utilizando recursos e instrumentos. O século XXI inicia com um meio
caracterizado pela (in)comunicação, mediada por aparelhos e sistemas digitais e
por espaços virtuais. O grande conflito? Quiçá!
Geração
cabana eletrônica da terceira onda. Cavaleiros do amor. Arte, reflexão, sabedoria,
cordialidade, inteligência emocional, senso de beleza, percepção, humor,... amor!
Por essa arte, literária e plástica, damos uma rica oportunidade para o homem aperfeiçoar
aptidões e desenvolver uma cota de humanidade, porque, por essas, torna- se mais
compreensivo e aberto à natureza, ao semelhante e às suas complexidades.
Antepassados,
humanos, utilizavam as mãos, diferenciando-se pelo polegar opositor: a pegada!
E pelo raciocínio. Humanos, no século XXI, utilizam as mãos, diferenciando-se
pelo polegar opositor: a tecla! E pelo raciocínio.
Uma
geração que elimina? Algumas coisas, como o Qwerty. Eu queria eliminar... (melhor
não dizer)! Porque já está eliminada. É uma questão de tempo. E de raciocínio.
A
arte, sempre, sem tempo, em todos os tempos, porque idealista, rudimentar, contemporânea,
democrática,..., não importa. Arte! Aqui, pintura e literatura, uma poesia!
Este meio promovido por mim, por Adriano e por Maria Amélia é um estímulo
favorável ao processo de humanização do homem, o indivíduo da tríade
walloniana: cognição, biologia e emoção; ou o indivíduo da dialética marxiana:
biologia e cultura; ou apenas: o indivíduo social e feliz.
As
atividades motoras de pintar e de escrever, com ressonâncias afetivas e
cognitivas, desfilam na passarela da arte para contribuir com o desenvolvimento
da cultura e para receber os aplausos do leitor de As cores e os amores.
Agradecemos! Enquanto pincéis brincam com cores, palavras brincam com
filosofias. Complexificar a linguagem articulada? Necessário e importante para
transformar o psiquismo pelos signos internalizados. Dizer que é civilizatória
a constituição de instituições, de rituais, de leis, de religiões, de normas
políticas e econômicas, de sofrimentos justificados pela ordem social? Já não
sei! Sei da Vida!
Porque
a Vida não necessita de poder.
Porque
a Vida se desenvolve livremente em suas relações de amor.
Porque a Vida aprecia o belo, a arte, o amor entre o céu e a
terra, em cores.
Desta
história, As cores e os amores, evidencio as propostas do respeito ao corpo físico
– uma virtude acessível – e da ascensão espiritual – um caminho que exige
encontros muitas vezes indesejados, especialmente com questões de amor e ódio.
As pessoas que almejam a vitória sobre si mesmas buscam a luz através do tempo
e abandonam, gradativa e sabiamente, a sombra das paixões.
Os
embates dos pensamentos humanos nos momentos de conflitos da emoção, individual
e social, induzem a olhar para uma dimensão infinita e retornar de lá com energia
para seguir o caminho. Conflitos porque este caminho se apresenta como concreto
e socialmente histórico. As lutas e as provações são vivas, alimentadas pelo ciúme,
pela avareza, pelas ilusões, pelo poder, pela hipocrisia, pela destruição dos ambientes
– orgânico, individual, social, natural, emocional.
A
reestruturação do futuro exige um olhar-se por dentro e considerar as possibilidades.
As experiências são importantes suportes para desenvolver uma inteligência emocional
equilibrada e, com isso, ter perspectivas de histórias – individuais e sociais
– em que a Justiça seja presença constante porque a Lei não é papel, muito menos
palavras; a Lei na perspectiva de uma sociedade humanizada são as ações que abandonam
o mal e semeiam o bem.
Ajudar
o próximo é uma tarefa difícil em tempos de abundância e entendida como piedade
pelos egos cheios de si mesmos. Ação que define o amanhã de cada um, em trevas
ou luz; o fenômeno ação-reação. O bem e o mal reagem sobre aqueles que os praticam.
À responsabilidade, princípio da vida, ninguém pode fugir. Entre o Céu e a
Terra há amor, em cores, e seus filhos transitando pelas esferas desse espaço –
do chão às alturas – em sintonia, ou não, com o plano espiritual. Por isso os
rituais. Por isso os intelectuais. Por isso os desejos banais. Por isso a
possibilidade de portais... para as consciências que se significam na harmonia
e na sabedoria da Justiça e da Lei viva, das ações.
...
a vida responde segundo a nossa solicitação. Ou vamos ou ficamos.
E
entre o Céu e a Terra há amor!
Há cores e amores!
Leni Chiarello Ziliotto
Com
a arte podemos perscrutar uma pessoa da maneira mais sincera, pois lá ela se
manifesta sem julgamentos. Explicar o amor é dificílimo, pois se trata de algo subjetivo
e pessoal. Tão difícil também é explicar o que é a poesia. Posso arriscar dizendo
que o amor, a poesia e outras formas de arte são manifestações de uma vida, de
um indivíduo, de uma geração...
Cada
ser humano vê a vida, os acasos e a arte com diferentes níveis de
sensibilidade. Essa multiplicidade é valorizada quando a escritora Leni Chiarello Ziliotto externou sua
visão pessoal de mundo e propôs que dois artistas, Maria Amélia Arroque Gueller
e Adriano Figueiredo Ferreira “lessem” sua vida e fizessem sua interpretação
através das artes visuais. Até aqui o trabalho já é bastante arrojado, mas Leni
conseguiu ir ainda mais longe.
A
primeira ou a segunda “leitura” de uma poesia nunca encerra suas
possibilidades. E, pensando nisso, tanto o texto quanto as obras em tela estão
sendo apresentadas aqui para a sua leitura.
Aprecie!
Rita
Pettersen
A
primeira, ou a segunda “leitura” de uma poesia nunca encerra suas
possibilidades. E, pensando nisso, o texto foi apresentado para os alunos do
Colégio Regina Pacis, em Sinop-MT, através das professoras Rita Pettersen e
Laínes Baratto. Assim, novas percepções somaram em criatividade. Os
adolescentes, do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio,
concorreram para participar desse projeto tão rico. Confesso que fiquei muito
surpresa e satisfeita com o resultado. Espero que essa variedade de visões de
mundo os surpreenda, como aconteceu comigo.
Boa
leitura e boa apreciação das obras visuais.
Rita
Pettersen
SONHOS
Ainda verdes. Coloridos. Vividos.
Sonhos de criança, de trança.
Sonhos.
Escola.
É a vida. Sofrida. Colorida.
Sou eu. Somos nós.
E nós. Desfeitos.
Os caminhos.
Trilhados. Suspeitos, abertos... futuro.
Coloridos!
Sonhos.
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