quinta-feira, 15 de março de 2018

O sonho



Chorando, Ana dirigiu até a capital,
para distrair.
Movimento urbano,
cidade grande,
gente na rua,
barulho,
luzes...
Confusão no trânsito por causa de obras.

De repente Ana já retornava da viagem.
E não encontrava a saída da cidade.
Perguntou a uma atendente de loja, que estava na porta
e que se ofereceu para acompanha-la até a saída.

Seguiram por um caminho de terra,
estreito, com pasto alto e verde dos dois lados.
Ana estranhou e parou o carro.
Havia um homem no banco detrás.

De onde surgiu o homem? Estranho!
Ele desceu do carro
e tirou do bolso dois canivetes tipo foices,
esfregando as laminas uma na outra.

Disse: você vai comigo fazer justiça; porque
eu faço justiça; se precisar matar por você eu mato;
tenho uma pessoa para matar; você dirige para mim
que eu preciso matar essa pessoa.

Ana ofereceu o carro.
Não queria dirigir pra ele matar pessoas.
O homem ameaçou.
Entraram no carro e andaram até um hotel.
Tomaram banho.

Na água do banho do homem,
havia sangue.
Ana procurou nas roupas dele os canivetes.
Não encontrou.
Viu-a procurando; ficou zangado.

Retomaram o caminho.
Pararam mais uma vez.
Agora em uma casa de madeira,
escurecida pelo tempo por falta de pintura.
Entraram.

Ana não identificou o estabelecimento.
Somente que era uma casa.
A cozinheira era a merendeira
da Escola dos filhos de Ana.

Por um momento Ana sentiu-se
aliviada. Pessoa conhecida.
Estariam indo para casa. Caminho certo.
A moça da loja saiu de cena, evaporou.

O homem sentou-se no chão,
ao lado da geladeira, bem próximo ao motor.
Com o homem meio escondido na geladeira,
Ana falou para a cozinheira: estou sendo sequestrada
e ameaçada de morte.

Ele percebeu.
Ana aproximou-se para conversar,
mais confiante pela aliada,
e percebeu fumaça saindo do corpo dele.
A cozinheira também se aproximou.
Viram faíscas saindo do motor da geladeira
e atingindo as roupas do homem.

As vestes do homem eram do estilo
das vestes da época de Jesus Cristo,
brancas, sujas e amarradas por cordas.
Ana avisou-o que estava sendo atingido pelas faíscas.
O homem manteve-se imóvel,
olhando fixo e triste para Ana,
com ar de decepcionado.

Ana teve a sensação
de que o circuito fora provocado, por ele.
Quando o circuito cessou, o homem estava
encolhido dentro das vestes.
Ana abriu os panos e só havia um punhado de cordas,
em feixes, que Ana pegou com uma das mãos
e levantou, como se fossem grossos espaguetes.

Mostrou à cozinheira, que não entendeu nada.
Ana pensou: ele me mostrou o caminho de casa!


Leni, 2017.




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