quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ciência e Religião – uma questão de fé



Leni Chiarello Ziliotto*
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*Leni Chiarello Ziliotto é aluna do curso de Doutorado em Epistemologia e História da Ciência pela Universidad Tres de Febrero, em Buenos Aires/Argentina. É educadora, bióloga, consultora e escritora. Especialista em Supervisão Escolar, em Educação a Distancia e em Educação Ambiental. Ainda, mestranda em Gestão e Auditoria Ambiental pela Universidade de León, Espanha. Está Diretora Pedagógica da Escola Brancca Maria (http://www.branccamaria.com.br/) e é consultora de escolas publicas e particulares em educação e de diversas empresas em gestão ambiental.



Ciência e religião são dois caminhos que levam muitas pessoas à contradição. Isso porque cada uma delas tem uma maneira de explicar os fatos e porque esses fatos são fatos que intrigam a humanidade desde o principio. Um exemplo disto é a discussão sobre a origem da vida no planeta Terra e sobre a criação e a evolução do ser humano.

Apesar dos avanços científicos ainda há grandes dificuldades de entendimento entre as teorias científicas e as reflexões religiosas. A própria definição de vida ainda é bastante polêmica. As pesquisas científicas mostraram como são complexas as diversas formas de vida no planeta Terra. E esta complexidade tem reforçado a inaceitabilidade da explicação da ciência de que a vida surgiu de uma série de eventos, ao acaso, da fragmentação de um corpo em explosão. Ou seja, reforça a crença em uma força misteriosa que a ciência até hoje não conseguiu explicar.

1         CIÊNCIA, FÉ E RELIGIÃO

Definir e registrar teorias significa seguir normas estabelecidas pelas comunidades cientificas e usar uma terminologia desse meio, científico. Por isso que nesse estudo, sobre a definição de ciência e sobre a definição de religião, e apresentando-nos na condição de pesquisadores iniciantes, a melhor escolha foi a de reproduzirmos definições já elaboradas por estudiosos que se aprofundaram no assunto.

Goldfarb (2004) apresenta como paradigma do nosso tempo para os temas “ciência” e “religião”, cada um no seu universo, com campos intelectuais autônomos. Ele diz que “Ciência lida com o mundo objetivo, utiliza a razão e a experimentação; religião lida com o mundo espiritual, utiliza a fé e a ritualística. [...] Distintas formas de ação do ser humano com características próprias e independentes.”

Küng, ao apoiar a teoria evolucionista, traz falas de Feuerbach, Marx e Freud que podem ilustrar essa relação entre ciência, fé e religião:

Ludwig Feuerbach tinha toda razão: sem duvida alguma a religião, como toda fé, esperança e amor humanos, contém um elemento de projeção. [...] Também Karl Marx tinha toda razão: a religião pode ser um ópio, um meio para acalmar e consolar a sociedade, uma forma de repressão, e muitas vezes o é. Ela pode ser tudo isso, mas não precisa ser necessariamente. A religião também pode ser um meio de amplo esclarecimento e de libertação social. Também Sigmund Freud tinha toda razão: a religião pode ser uma ilusão, pode ser expressão de uma imaturidade psíquica, ou mesmo de uma neurose, de regressão, e muitas vezes o é. Mais uma vez, porém, ela não precisa ser isto necessariamente. Pode, pelo contrário, ser expressão de identidade pessoal e de maturidade psíquica. (Küng, 2005, pp. 76-77; com ênfase no original).

Após o desenvolvimento dos métodos científicos há uma tendência em valorizar muito[1] o que diz o cientista. A mídia contribui para essa cultura ao apresentar produtos enfatizando os termos: “cientistas dizem”, ou “mais uma descoberta da ciência”, ou ainda “está provado cientificamente que”. Sempre que o termo “ciência” ou o termo “cientista” aparece, a credibilidade aumenta. A “fé” em um deus criador foi abalada. Quem reforça essa idéia é Feyerabend[2], filosofo que lutou contra a as amarras da ciência, dizendo que a ciência estava decidindo as nossas vidas e empobrecendo a cultura do ser humano ao nos entregarmos exageradamente confiantes a um médico e não a um bruxo. 

Porem, o que queremos chamar atenção nesse capítulo é para o embate entre o modelo explosivo big bang e a teoria de que Deus é o criador de todas as coisas. Quem fez o Universo? Há os que consideram ciência a teoria do big bang tanto quanto a teoria da criação do universo por uma força metafísica, com o argumento da “falta de falseabilidade”. Não há provas de que “assim não é”, especialmente a existência de um deus que tudo criou e comanda até hoje o curso do universo. Esse conceito de ciência dificulta a construção de uma única teoria sobre a origem de tudo, porque não consegue chegar a verdades absolutas sobre as grandes questões como: a origem e a evolução da vida no planeta Terra; o fim da vida; o fim do planeta Terra, o fim do Universo.

Os que acreditam na criação da vida dizem que acreditar na ciência exige tanta fé quanto crer em Deus. Esse conflito entre ciência e religião é conhecido historicamente. Inicialmente um confronto entre a igreja e os cientistas com teorias como o sistema heliocêntrico[3] ou a origem da vida com base no evolucionismo[4], chegando ao final do século XX e início do século XXI com confrontos entre comunidades cientificas e religião sobre temas como transgênicos, clonagem e células-tronco.

Há os que defendem a proposta da ética ser a que une ciência e religião. O que se percebe nas sociedades humanas, porém, são práticas que não corroboram com esse argumento. A ética é usada como argumento para insuflar esses conflitos. Exemplo disso é a questão das células-tronco não autorizadas pela força da religião em nome da ética defendendo os embriões. Contudo, pela proibição, oportuniza a prática dessa técnica por seres humanos que querem viver mais e que têm dinheiro. O poder econômico é que define as práticas da ciência, e não a ética. Outro exemplo são as plantas geneticamente modificadas por cientistas para lucrarem com as patentes. Os efeitos desses produtos no ambiente e nos organismos vivos bem como a solução de problemas das sociedades humanas não estão entre as prioridades dessa técnica. É sim o lucro, o fator é, mais uma vez, o econômico.

O ser humano do século XXI tem por meta a longevidade e a qualidade de vida. Ao mesmo tempo, percebe-se que muitas das ações humanas não contribuem para atingir essa meta. Uma dela é a de priorizar o lucro com patentes em detrimento da preservação da biodiversidade. As pessoas que assim agem, têm uma religião. Como um ritual, um dogma, mais uma prática com a simples função de elemento cultural? Para Usarski,

[...] a religião como dogma não contribui para evolução positiva das sociedades humanas, por isso não é importante. A religiosidade, inerente a todas as religiões, sim. Religiosidade é atitude de vida. E aqui está uma das grandes diferenças entre a ciência e a religiosidade: enquanto a ciência exige e por isso se degladeia pelas patentes, Jesus não patenteou o lema “amai-vos uns aos outros”. Isso está no cerne de várias religiões. É uma questão de religiosidade, portanto, não de religião. (Usarski, 2010)

Albert Einstein disse que “Ciência sem religião é marca. Religião sem ciência é cega”, e que “A ciência nos afasta de Deus, mas a ciência pura nos aproxima de um criador.” Essas afirmações provocam uma reflexão acerca do conflito entre as duas entidades – ciência e religião – como uma questão de poder e autoridade que disputam, que uma quer ter sobre a outra. Contudo, acabam sendo úteis uma a outra, porque quando surgem os apontamentos da falibilidade, a que foi alertada de seus pontos fracos busca se aperfeiçoar para se fortalecer no poder e na autoridade. A religião sabe-se sem a razão e a ciência tem consciência de sua finitude.

2         EVOLUCIONISMO E CIRACIONISMO[5]

Sobre a origem da vida, para os cientistas, teoria aceita até os dias de hoje é o evolucionismo, cujo inicio foi há poucos bilhões de anos com uma grande explosão denominada big bang. Com o advento da internet, essa teoria está sendo “bombardeada” por diversos “ângulos de visões”, por diversas interpretações. Pelo paradigma vigente de ciência, as considerações são para manifestações com base em um método científico e interpretado por uma comunidade científica.

Sobre o modelo cosmológico conhecido como big bang, a atenção dos cientistas nos últimos anos está sobre um novo cenário conhecido como “Universo eterno dinâmico”. Esse novo modelo apresenta circunstancias que enfraquecem o modelo big bang. Novello (2010) considera o big bang uma boa descrição cientifica do começo do Universo, tornando-se uma espécie de mito da criação. Em seu livro Do Big Bang ao Universo Eterno, o cosmólogo Mário Novello, que se dedica ao estudo de um novo cenário para explicação da origem da vida e do Universo, apresenta a fragilidade da “verdade cientifica do big bang” na “impossibilidade de qualquer investigação anterior àquele momento singular de consideração máxima e, portanto, qualquer tentativa de ir alem dele”. (Novello, 2010, contracapa).

Uma expressão usada por Novello, depois de um ano de estudos sobre modelos cosmológicos que se opõem ao big bang, é “[...] fim do paradigma paralisante do modelo explosivo” (Novello, 2010, p. 11; sem grifo no original). Ao classificar o big bang como modelo paralisante, Novello provoca para manifestações bastante diversificadas, entre elas da religião que se fortalece com o enfraquecimento da teoria no modelo big bang. Os resultados dos estudos de Novello dão margem para, como disse um professor da Universidade de Lyon citado por Novello, “[...] reduzir o status dessa ciência, abrindo espaço para o aparecimento de explicações de caráter não cientifico e até transcendentais” (Ibidem, p. 13). Ele reforça a idéia de “modelo paralisante” dizendo que é um “modelo que inibe uma história racional completa do Universo” (Ibidem, p. 14).       

Além de retomar uma das grandes questões entre ciência e religião ao afirmar que o “Universo é eterno e não teve um começo em um tempo definido”, Novello (2010) critica a divulgação em meios de comunicação de massa como jornais cotidianos e revistas não especializadas informações que “os cientistas estão longe de provar com toda certeza” (Ibidem, p.12) quando se trata de “questões envolvendo tema tão sensível quanto o “começo de tudo”” (Ibidem, p.13; grifo no original).

Novello também assinala que ciência e religião possuem uma relação de poder uma sobre a outra ao dizer que

[...] toda afirmação que se faz e que não teve ainda sua verdade confirmada pelos métodos convencionais, absolutos e universais da ciência deve exibir para o ouvinte e/ou o leitor sua condição limitada ou provisória. Caso contrário [...] esse uso indevido do status elevado que a ciência possui nada mais será que uma “máscara atrás da qual se esconde um poder político que não ousa se declarar como tal”. (Novello, 2010, p. 15).

Como explicação racional sobre a origem do Universo, o big bang é o modelo que dominou, segundo Novello(2010), a maior parte da história moderna da cosmologia, em particular dos anos 1970 a 2000. E esse modelo não foi abandonado de todo, mas “não está mais dotado de vigor e da hegemonia que possuaia no passado recente” (Ibidem, p. 17).

Nessa brecha entraram as religiões fortalecendo-se em um momento em que a ciência ainda não produziu uma explicação racional sobre a origem do Universo pelo modelo big bang. A explicação dos fenômenos segundo o esquema científico vigente “observação-teoria-observação” impossibilita o registro de dados  mensuraveis em um cenárioo explosivo. Uma teoria, que segundo o método cientéfico hipotético dedutivo não foi falseada, portanto científica, porém que não conseguiu falsear a existência de um Deus criador de tudo o que existe, e portanto tambem possivel.
 
A proposta de Novello (2010) é de um “Universo eterno”, ou seja, em expansão. Tema para ser aprofundado em um estudo específico. O que trazemos, aqui, dos estudos de Novello (2010), é  a argumentação da fragilidade do modelo big bang, e por consequência, até a ciência não construir uma explicação cientificamente válida, fica um espaço em que as religiões se fortalecem, com o argumento de que, se a ciência não tem respostas para as grenades questões da vida, é porque existe um ser supereior que tudo criou e continua defeinido os rumos do Universo. O Criacionaismo se fortalece com as diversas igrejas embasadas nos textos do “Livro Sagrad”, defendidos pelos criacionista como verdades reveladas de forma verbal por uma divindade que detem o poder da criação e manutenção ou destruição da vida.

Vários teólogos defendem a inerrancia dos textos bíblicos e criticam a leitura da Bíblia “pelas lentes do método científico moderno com mentalidade cartesiana, positivista e empírica, cujo contexto em muito se distancia da mentalidade semítica com a qual as Escrituras estão entrelaçadas”. (Borges, 2009). Isso reforça o conceito de que o principío de tudo é Deus. “No principio criou Deus os céus e terra. (Gênises 1:1). 

É preciso compreender, nessa defesa do ciracionismo com o argumento de que os textos bíblicos são inerrantes, os contextos das duas mentalidades citadas pelos teólogos, semítica e científica modrena, e a relação entre os dois. O ciracionaismo foi originado em um mundo pre-científico, no qual  abundavam os mitos e que, portanto, baseia-se na noção de que existe um ser sobrenatural, um “Projetista do mundo” e “Supremo Legislador” que não pode ser investigado cientificamente. (Javor, 2010).

George Javor, professor e pesqusador do Departamento de Bioquimica da Escola de Mediciana de Loma Lima, Califórnia, supreende com a firmeza da declaração de que “a visão adventista de mundo baseia-se no profundo tema do grande conflito entre Cristo e Satanás. A Bíblia afirma que nos últimos dias Satanás trabalhará poderosamente para enganar o mundo. Um dos pilares deste engano pode ser a teoria da evolução”. (Javor, 2010). Javor conclui seu artigo dizendo que

O criacionismo é um paradigma robusto, plenamente capaz de sustentar o empreendimento científico no novo milênio. A aceitação mais ampla do Criacionismo pela comunidade científica no futuro dependerá em parte de quão bem poderão os teólogos convencer os cientistas do inapreciável valor da informação revelada. Além disso, essa abordagem ganhará maior credibilidade à medida que mais cientistas efetuarem pesquisas com base na perspectiva criacionista. (Javor, 2010).

A proposta de Novello (2010) de um “Universo infinito em expansão acelerada”, porém, não é de afirmar que o início do Universo é por obra da “criação de Deus”. Contudo, ao enfraquecer o modelo big bang, abre fronteiras para o  fortalecimento da teria criacionista equanto a comunidade cientifica não apresentar explicações convincentes ao mesmo tempo em que a mídia divulga  afirmações como as de Javor.

Na edição de maio de 2008 do Osservatore Romano, o diretor do Observatório do Vaticano, José Gabriel Fundes, afirmou estar convencido da validade da teoria do big bang para explicar a origem do mundo, considerando-a completamente compatível com a existência de Deus. (Novello, 2010).

Essas e outras notas de rodapé na obra de Novello, provocam, se não a crença no modelo criacionista, o enfraquecimento do modelo big bang e propoe que “deveríamos esperar o surgimento de uma nova cosmologia” (Ibidem, 2010, p. 124). Ao mesmo tempo em que estamos vivendo num tempo de avanço tecnologico e científico acelerado que apresenta novas visões dos fenôomenos, continuamos presenciando uma catequese com pastores  pregando doutrinas como

No principio, tudo era simples. Deus havia criado o céu e a terra... plantas para ornamentar sua criação, animais para povoá-la, o ser humano feito à sua imagem e semelhança para reinar sobre toda essa obra deixada a partir de então à mercê de seus de seus caprichos... porém, um detalhe pôs tudo a perde nos planos divinos. Sua obra máxima, o centro e a coroa de sua criação resolveram insurgir-se contra suas ordens... e eis que Ele teve de expulsá-los do paraíso perfeito, abortados de Seus planos de felicidade eterna e vida harmoniosa, pois comeram do único fruto proibido: o fruto do bem e do mal. A partir disso, Homem e Mulher aprenderam a duvidar e a questionar, aprenderam que teriam que lutar pelo seu sustento, pela sua felicidade... aprenderam que teriam que aprender como o mundo funciona... (Goldfarb, 2004).

Esse fenômento cumpre a função de tentar responder ao desejo humano de conhecer suas origens, assim como a comunidade científica faz com a apresentação de modelos como o big bang. A mesma comunidade científica, formada por elementos com diferentes visões, se vale do modelo atual vigente para avançar no entendimento da origem de tudo e para responder, como foi mencionado acima, a provocações do tipo “Big bang, uma religião mascarada de ciência” ou ainda “evolução - não me toques que me desafias”. [6]

2.1     Modelo explosivo da origem do Universo: o Big Bang

Os estudos de Novello sobre a origem do Universo foram realizados em 2009 e seus resultados, que propõem um “Universo eterno” foram publicados em 2010. Hans Küng, no seu livro O princípio de todas as coisas: ciências naturais e religião, publicado no ano de 2005, defende com veemência a origem do Universo pelo modelo Big Bang quando diz que


[...] hoje os astrofísicos estão em condições de descrever com exatidão o princípio do cosmos: como ele surgiu, como, por assim dizer, aconteceu a criação do mundo vista pela ciência. O consenso alcançado aqui entre os cientistas é tão grande que se fala de um “modelo-padrão”, frente o qual os modelos contrários não conseguiram se impor. (Küng, 2005, pp. 25-26, grifos no original).

Percebe-se, nessa anlise, a forte incisão com  que Küng afirma o modelo explosivo big bang como a origem do universo, denominando-o de “a explosão inicial” (p.25), bem como o curto espaço de tempo entre as publicações de Küng e Novello.

Em sua obra Küng apresenta argumentos em defesa da teoria do início do universo por uma explosão inicial usando uma linguagem bastante incisiva, quase que ameaçadora para um leitor leigo, desafiando qualquer teoria criacionista. Ele afirma com veemência suas conclusões e durante toda a obra vai permeando o texto com passagens direcionadas aos criacionistas, do tipo:

Com pleno direito e amplo sucesso, as ciências naturais procuram aproximar seus conhecimentos da certeza matemática. Exemplo impressionante disso é o modelo-padrão da explosão inicial. Da física atômica à astrofísica, da biologia molecular à medicina, as pesquisas exatas podem ser realizadas de forma a se atingir a maior certeza matemática possível. A ciência natural de orientação matemática é, pois, plenamente justificada e autônoma, possuindo suas leis próprias. Nenhum teólogo, nenhuma pessoa da Igreja tem o direito de questioná-la, apelando para uma autoridade superior (Deus, a Bíblia, a Igreja, o Papa). (Küng, 2005, p. 51; sem grifo no original).

O estilo de Küng de escrever usando termos exageradamente favoráveis às suas conclusões como os grifados na citação acima, tende ao convencimento do leitor de que a teoria evolucionista é a única explicação válida para o inicio e a existencioa do universo.

2.2     As evidências da Evolução

“As evidências da evolução” são registradas em diversas obras de diversos autores evolucionistas. Propomos, anteriormente, uma analise sobre o curto espaço de tempo entre as publicações de Novello e de Küng. Refazemos a proposta de analise, agora, entre o tempo de publicação da obra de Novello (2010), resultado de pesquisas realizadas no ano de 2009, e de Dawkins (2009). Richard Dawkins é considerado “um expoente dos prodígios da ciência, um defensor da razão e do saber científico e inimigo de todo tipo de misticismo” (The New York Times). Em sua obra O Maior Espetáculo da Terra, Dawkins (2009), porta-voz da biologia evolucionária, apresenta as “evidências que comprovam que a evolução pela seleção natural é a única explicação válida para a vida na Terra”. A pretensão da obra de Dawkins é “ser necessária” para

de um lado, dar munição infalível aos que ensinam a evolução ou desejam compreendê-la em seus mais fascinantes aspectos; de outro, apresentar aos que negam a evolução pela seleção natural uma argumentação cientifica tão clara, tão incontestável que não lhes será possível continuar a sustentar suas concepções errôneas depois de terem sido expostos a este livro. (Dawkins, 2009).

Se, por um lado temos vivido um período na história da ciência em que os representantes das grandes revoluções cientificas foram calados por representantes religiosos, especialmente do catolicismo, estamos vivendo em um tempo em que fatos como o que ocorreu em janeiro do ano de 2008 em que o Papa Bento XVI foi impedido por um pequeno grupo de docentes – considerando o universo da instituição – de proferir discurso de abertura do ano letivo da Universidade de Roma La Sapienza, podem ser percebidos como a “virada do jogo”. Será?

Está demonstrado na obra de Dawkins (2009), com dados do Gallup[7], que a hora da ciência ser soberana ainda não chegou, porque quarenta e quatro por cento dos americanos negam totalmente a evolução, conduzida ou não por Deus, e trinta e seis por cento acreditam na evolução porém conduzida por Deus. O autor interpreta os dados da pesquisa do Gallup como uma “verdadeira tragédia” (ibidem, p. 398) e lamenta o fato, porque resta, pelos dados da pesquisa, apenas uma minoria de quatorze por cento dos americanos que acreditam na teoria da evolução sem a interferência de Deus. O panorama é de no mínimo quarenta por cento dos americanos criacionistas ferrenhos, inflexíveis, antievolução.

Dawkins atribui grande parcela de responsabilidade pela construção dos conceitos com bases criacionistas às religiões sim, mas também aos professores hostilizados que tentam ensinar a evolução com base em currículos pré-estabelecidos, e inicia a escrita do livro O Maior Espetáculo da Terra com afirmações incisivas – aproximando-se, na forma de registrar suas teorias, a Küng: “A evolução é um fato. Alem de qualquer dúvida razoável, além de qualquer dúvida séria, além da dúvida sã, bem informada, inteligente, além de qualquer dúvida, a evolução é um fato” (Dawkins, 2009, p.18).

Podemos dizer que o ser humano tem dificuldade de perceber as relações ente os fatos e os fenômenos, e principalmente a relação entre ciência, fé e religião. Para uma sociedade que obedece cegamente a ciência ao entregar-se aos médicos, nega a teoria da evolução, segundo os dados da pesquisa do Gallup.

3         LIMITES DA CIÊNCIA

Com base em parte do exposto até aqui, pode-se dizer que a ciência, por mais que argumente a não existência de um deus criador de tudo, tem, na ausência de respostas às grandes questões da vida, uma de suas maiores limitações. Publicações de cunho acadêmico universitário assumem essa limitação da ciência, como é o caso de Küng ao afirmar que a nova física, “numa dramática história de êxitos e sucessos, conseguiu de forma surpreendentemente exata chegar a uma descrição empírica do inicio do universo”, ao  mesmo tempo que declara que “mesmo o modelo-padrão, evidentemente, não tem resposta para todas as perguntas. Ele não esclarece, por exemplo, porque a distribuição da matéria foi tão homogênea e isotrópica [...]”. (Küng, 2005, p. 28)

Nas últimas décadas a ciência evoluiu com rapidez e a cada dia surpreende com avanços de técnicas, em questões pontuais como a dos transgênicos, da clonagem, das células-tronco. Situações que envolvem a questão das religiões e provoca críticas, discussões, elogios e divulgação do conhecimento científico não somente pelos instrumentos formais da ciência, mas também pela mídia, que o envolve em um manto de senso comum, muitas vezes tendencioso segundo os princípios de pequenos grupos gestores das mídias.

Essas questões pontuais são frequentemente temas de manifestações acerca dos limites da ciência, com declarações de que a ciência deveria ter limites para que a humanidade não se auto-destrua pelo uso de seus próprios engenhos, como as bombas e a degradação ambiental. O apelo é para que o ser humano respeite a vida. E esse apelo está sendo relacionado aos limites da ciência, como por exemplo, a questão do uso de embriões como fonte de células sem considerar que o embrião é uma vida. Com esse tipo de questão a ciência entra em conflito, com as religiões principalmente.

Questões mais complexas são também expressam o limite da ciência, como as “limitações básicas do conhecimento físico-matemático [...]” e “a física deparou-se com limitações básicas na teoria quântica.” (Küng, 2005, p. 52). Horgan (1998), porem, vai mais longe. É um autor que dedica-se a justificar que a ciência está chegando ao seu fim.

Fazer ciência hoje é difícil, porque os condicionantes sociais, políticos e econômicos apontam para um futuro mais difícil ainda (defensores dos animais, fundamentalistas religiosos, políticos míopes e mesquinhos). Porem a ciência vai colocando limites ao seu próprio poder à medida que avança. Exemplos: A teoria da relatividade (Einstein) não permite a transmissão da matéria nem da informação a uma velocidade maior que a da luz; A mecânica quântica estabelece que nosso conhecimento do microcosmo será sempre incerto; A teoria do caos confirma que vários fenômenos são impossíveis de prever. Os otimistas que pensam ser possível superar todos os limites da ciência, enfrentarão o mais inquietante dilema: O que farão os cientistas se conseguem saber o que se pode saber? Qual seria, então, o objeto da vida? Qual seria o objeto da humanidade? Se acreditamos na ciência, devemos aceitar a possibilidade - inclusive a probabilidade - que a grande era do descobrimento cientifico passou. Pode ser que as próximas investigações não trarão mais revelações nem revoluções de grande envergadura a não ser fatos graduais e decrescentes. (Horgan, 1998, p. 21 e 22)

Horgan diz do fim somente da ciência teórica que busca a verdade por si mesma. A ciência aplicada, a prática que busca o conhecimento com a intenção de aplicá-la, não apenas justificá-la, será mantida. Por isso o fim das grandes revoluções científicas, como as de Copérnico, Darwin e Newton. Horgan apresenta um conceito ingênuo de ciência ao dizer que ciência tem limite, tem fim, mas não mostra o limite, não mostra o fim. Porém, apresenta um argumento forte para as limitações da ciência e em defesa de uma ciência somente prática. Ele diz que a sociedade não se interessa mais pela ciência. É tão completa que as pessoas comuns não irão entender. O único interesse que a sociedade tem pela ciência é que resolva os problemas cotidianos, e não se interessa pela teoria da ciência, como se faz ciência. A sociedade não quer saber como se cura a doença. Ela quer ser curada. O interesse da sociedade pela ciência é prático, não teórico. Por isso diz que a ciência teórica tem seu fim, porque a sociedade, que financia a ciência, não se interessara mais em manter financiado uma ciência teórica. Também a sociedade está percebendo as desvantagens e os perigos da ciência. Por isso não se sente mais motivada a financiá-la. (Horgan, 1998).

4         CONCLUSÃO

O conflito entre ciência e religião não é uma questão do século XXI. Ele faz parte da civilização ocidental e da própria historia da ciência. Tanto as religiões quanto a ciência buscam as mesmas respostas: explicar a realidade do Universo. Enquanto a ciência trabalha para responder com fórmulas, com teorias comprovadas em experiências, as religiões fortalecem o argumento de um ser supremo que tudo pode, tudo faz, tudo decide e tudo criou com base na falta de respostas da ciência.

As comunidades científicas têm se debatido entre esses conflitos por causa do contexto sociocultural em que os estudos são feitos e os resultados apresentados. Exemplo disso é a vida tumultuada que foi a de Galileu Galilei (1564-1642) aos se debater entre a própria sobrevivência, a sobrevivência de sua família, o medo tipicamente católico romano diante do novo e a ameaça à imagem bíblica do mundo que os resultados de seu telescópio apresentavam. (Sobel, 2000).

Em nossos dias o Papa João Paulo II, [...] despertou admiração em muitos cientistas e historiadores por suas ambíguas manifestações a respeito do caso Galileu. [...] ele pretendia que o caso fosse examinado por uma comissão investigatória. Mas após a conclusão dos trabalhos, [...]o Papa evitou confessar claramente a culpa de seus antecessores e da Santa Congregação da Inquisição (hoje “Congregação para a Defesa da Fé”), [...]. (Küng, 2005, p. 20 e 21, grifo no original).

Percebe-se que em volta de Galileu bem como de Darwin, uma legião de estudiosos, teóricos, filósofos, cientistas, sociólogos, teólogos construíram e constroem resultados com a convicção necessária ao crédito por causa das forças socioculturais fundamentada na fé em um Deus criador, representadas pela instituição “igreja/religião”.

O poder das forças sociais e culturais estabelecidas favorece o cultivo da fé em um Deus criador mesmo que a ciência explique a natureza com conhecimentos construídos pela experiência mensurável. Por mais que a ciência defina uma idade cronológica considerável para o Universo, continuamos acreditando em uma possível “harmonia divina do mundo presente em todas as coisas e relações” mesmo que “matematicamente fundamentada”. (Küng, 2005, p. 17)
Dawkins (2009), no livro O Maior Espetáculo da Terra, defende que a “evolução é um fato inescapável” e, com isso, exaltou seu “poder, simplicidade e beleza impressionantes” (ibidem, p. 27). As sociedades humanas se entregam cegamente a médicos e não a bruxo com a mesma confiança que têm na ciência – nesse caso a medicina. As pesquisas mostram que mais de oitenta por cento das pessoas acreditam na existência de Deus e que ele interfere nos processos do Universo.

As três afirmações do parágrafo anterior deixam o tema em aberto para novas inferências às propostas nesse breve estudo sobre Ciência e Religião e a relação entre elas e delas com seu entorno.    

Referências bibliográficas
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[1] O termo “muito” aqui está posto com o significado de “exagerado”, “além do necessário”, portanto, de não ser bom. Quando é “muito” não é o ideal para os padrões normais.
[2] Feyerabend foi um filósofo social com características de “anarquismo metodológico” ao defender a teria de que os cientistas deveriam decidir seu método particular e pessoal de fazer ciência, sem necessidade de filósofos impondo regras metodológicas. 
[3]  Em Astronomia, heliocentrismo é a teria que o Sol está estacionário no centro do Universo. Historicamente era oposto ao geocentrismo que colocava a terra no centro.
[4] A teoria do evolucionismo afirma que as espécies animais e vegetais, existentes na Terra, não são imutáveis. Teoria oposta à doutrina do criacionismo que acredita na origem da vida por ato divino.
[5] Criacionismo é a crença que explica a origem do Universo, do planeta Terra e de todas as formas de vida através da criação de Deus. Esta crença tem como base às explicações que fazem parte do livro de Gênesis (Velho Testamento da Bíblia Sagrada). O criacionismo faz parte da base de crenças de três importantes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo.O criacionismo faz oposição às explicações evolucionistas científicas, criadas principalmente por Charles Darwin e Lamarck no século XIX.
[6] Títulos de artigos publicados em sites de cunho acadêmico universitário.
[7] Mais conhecido instituto de pesquisa de opinião dos Estados Unidos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

  NOVAS TECNOLOGIAS – Instrumento pedagógico para educação capaz de gerar cultura ecológica e exercício da cidadania

Leni Chiarello Ziliotto
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Educadora, Bióloga, Consultora e Escritora
 Especialista em Supervisão Escolar,
em Educação a Distancia e em Educação Ambiental
Mestranda em em Gestão e Auditoria Ambiental
Doutoranda em Epistemologia e Historia da Ciencia

Assmann (1998) afirma que “a evolução da humanidade chegou a uma fase que nenhum poder econômico ou político é capaz de controlar a explosão dos espaços do conhecimento”. Perceber as vantagens que esses espaços oferecem no sentido de qualificar o processo de aprendizagem humana é importante para a Educação. O processo de evolução na área tecnológica acarretou, também, uma mudança no ambiente natural do planeta Terra em proporções prejudiciais à vida. Com isso, urgem ações de sustentabilidade.
É preciso encontrar um denominador comum entre a sustentabilidade e o desenvolvimento. A “explosão” social do desenvolvimento continuará. O compromisso está em garantir a sustentabilidade da vida. Por isso, a importância da sensibilização dos futuros gestores ambientais a fim de que eles percebam sua condição humana no Planeta: também criatura.
Este artigo tem a proposta de sensibilizar para a importância de uma ação ambiental dos grupos sociais humanos bem como de promover a percepção da necessidade de um processo de apropriação da tecnologia de rede enquanto ambiente comunicacional e de exercício da cidadania.
A preocupação com a vida no planeta Terra é mundial, fazendo desse um assunto obrigatório em todas as esferas humanas, e a tecnologia é o contexto emergente das sociedades contemporâneas. Assim, se discute brevemente as questões sobre o processo de aprendizagem humana; as novas tecnologias; práticas pedagógicas contextualizadas; formação dos profissionais da educação e a relação entre essas questões para uma sociedade cidadã. 
Hissa diz que a modernidade consolida o espírito cientifico resumido nas vacinas, no combate às pestes e na reprodução de promessas de vida melhor.

Ela se sumariza através do processo de acumulação capitalista, na expectativa de que a ampliação da produção e do consumo fará o mundo progressivamente mais moderno, de pessoas melhores, mais saudáveis, menos espoliadas. Sonhos modernos de promessas não cumpridas. (HISSA. 2008, p. 19)


Horgan também faz uma analise sobre os “limites do conhecimento e o declive da era cientifica”, dizendo “[...] chegamos tarde. As grandes descobertas já aconteceram [...].” (HORGAN, 1998).
A estrutura da historia da ciência inicia com Bacon (Indutivismo, 1561-1626), momento em que a ciência perde o direito de afirmar verdades acabadas e passa a gerar hipóteses a ser testadas e refutadas empiricamente. O Circulo de Viena retoma esse método no inicio do século XX (1920-1960) até Popper propor o método hipotético-dedutivo (considerado de 1960 a 1980), mas que segue até hoje nas academias. O método de Popper é apenas melhorado por Kuhn, que tira a obrigatoriedade de refutar as hipóteses e introduz o “enunciado” “Paradigma”.
Pela lógica de Kuhn, dois elementos são fundamentais: a estrutura da ciência e a comunidade cientifica. A estrutura da ciência vigente é a estabelecida pela comunidade cientifica e vice-versa. Para Santos

[...] a modernidade é o modo de produção de não-existencia mais poderoso. Consiste na transformação da ciência moderna e da alta cultura em critérios únicos de verdade e de qualidade estética, respectivamente. A cumplicidade que une as “duas culturas” reside no fato de ambas se arrogarem ser, cada uma no seu campo, cânones exclusivos de produção de conhecimento ou de criação artística. Tudo o que o cânone não legitima ou reconhece é declarado inexistente. [...] (SANTOS, 2004, P. 787).   


Na visão de Santos (Idem) a ciência tem suas fragilidades, também percebidas por Gómez (2001) quando diz dos “limites da ciência” e por Hissa quando diz que “A aventura da pesquisa e do estudo não passa pelo conforto dos trilhos retos de uma antecipada certeza” (HISSA. 2008, p. 22) e que “Nas universidades, além de limites, há fronteiras e ricos espaços de resistência do saber.” (Idem, p. 21).

Se os territórios disciplinares estimulam a reflexão sobre possibilidades de diálogos entre os corpos teóricos específicos do conhecimento, serão os próprios limites das ciências assim como os da universidade moderna que dificultarão o transito democrático do conhecimento. (HISSA. 2008, p. 21)

Hissa percebe que

[...]nos interiores da universidade moderna há territórios progressistas: contra-universidades, latentes, feitas de aberturas.” Essas aberturas são percebidas como “possibilidades de construção de territórios transdisciplinares do conhecimento cientifico moderno: feito de limites e de fronteiras, na condição de espaços de resistência do saber e das ricas possibilidades de tradução entre os corpos teóricos disciplinares potencializam o dialogo entre a ciência e as mais variadas formas de saber. No entanto, diante da prevalência de barreiras, emerge uma transdisciplinaridade moderna que [...] se transposta para o ambiente das escolas e das universidades, [...] apresentada efusivamente como a solução para o enfrentamento da crise de formação, insuficiente para a abordagem das complexas questões, originarias das modernidades contemporâneas. (HISSA. 2008, p. 21)

Nesse contexto de necessidade de lançar mão de “uma transdisciplinaridade moderna” a questão ambiental entrou para os espaços de Educação no Brasil. Transdisciplinaridade e transversalidade passaram a fazer parte da linguagem acadêmica como “paradigmas emergentes”. O Ministério da Educação (MEC) criou em 1996 um documento, Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), como diretrizes para o melhor desenvolvimento da relação ensino-aprendizagem, contendo os conteúdos específicos das disciplinas básicas e seis temas transversais: pluralidade cultural, ética, saúde, meio ambiente, trabalho e consumo e sexualidade. Também, em 2006, o MEC definiu orientações curriculares para o Ensino Médio, agrupando as disciplinas básicas em três áreas e agregando a cada uma delas o potencial de “suas tecnologias”: “Linguagem, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias.” (MEC. 1996).
Aprendizagem é a forma como se adquirem novos conhecimentos, desenvolvendo competências e mudando o comportamento do ser. Por isso é um processo complexo, que envolve um todo, e não algo solto, fora de contexto. (PERRENOUD, 1999).
Para que o processo da aprendizagem se realize há determinados elementos que se fazem necessários: interesse, necessidade, experiência e motivação. (SENAC, 2006). Também se faz necessário considerar as três etapas fundamentais do processo: aquisição, retenção e transferência do conhecimento. (LINS, 1984).
Um grande desafio para os agentes do processo de aprendizagem humana são a necessidade, a possibilidade e a legitimidade de um processo de aprendizagem para todos, o que pressupõe cidadania, e pensar o processo de aprendizagem como um fenômeno sistêmico e heterogêneo, o que é uma das grandes dificuldades dos profissionais da educação. (HERNANDEZ, 1998).
Com a proposta de uma aprendizagem efetiva, adquirida, retida e transferida no sentido do bem, é que os profissionais da educação precisam planejar suas ações. Envolver no processo o ser completo, razão e emoção, porque somente a educação trabalhada sob a visão de totalidade é que favorece a construção de seres humanos equilibrados, necessários à conservação da vida de todos os seres e do planeta.
Uma vez que a sociedade contemporânea apresenta, à Educação, um contexto de explosão dos espaços de conhecimento, a virtualidade e as novas tecnologias passam a fazer parte do dia-a-dia das crianças, dos jovens e dos idosos. A concepção de educação de Freire (1997) se faz presente nesse contexto social, provocando a necessidade de “ler o mundo” antes de “ler as palavras”. Retirar o dinheiro da aposentadoria com um cartão magnético tornou-se mais importante do que saber ler o letreiro do ônibus que indica seu destino.

A profundidade e a rapidez da penetração das TIC estão transformando muitos aspectos da vida cotidiana. Isso constitui uma das principais marcas do atual período histórico. Ao longo de toda a evolução da espécie humana, nunca houve mutações tão profundas e rápidas. A revolução tecnológica em curso é irreversível nos seus aspectos básicos. Só não é irreversível – e devemos lutar para que não o seja – o manejo econômico-político no qual está inserida atualmente. A questão é, pois, se a lógica da exclusão e SI são inseparáveis ou se a sua coincidência se deve apenas ao predomínio atual da lógica do mercado. (ASSMANN, 1998, p. 17).


Para a presença da tecnologia avançada na Educação não basta boa vontade ou uma sala com computadores de última geração. Faz-se necessário um estudo diagnóstico das reais potencialidades e capacidade de investimento e manutenção, porque um projeto de uso da tecnologia que realmente queira contribuir com o processo de aprendizagem, precisa considerar  quatro elementos básicos: computador, software educativo, professor capacitado e aluno. Computador na escola não é sinônimo de avanço. Para que essa ferramenta participe do processo de aprendizagem ela precisa agir de maneira eficiente, favorecendo a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Isso será possível não em uma aula com o professor de informática, mas sim no trabalho coletivo da escola como um todo, envolvendo todos e cada um na responsabilidade que é a aprendizagem humana. (SENAC, 2006).

O contexto atual das novas tecnologias vem se estabelecendo em um contexto ambiental que, na sua trajetória, deixa marcas de conflito, de esgotamento e destruição dos recursos naturais, de expansão urbana e demográfica, de crescimento acentuado das desigualdades sócio-econômicas, de perda da biodiversidade e de contaminação crescente dos ecossistemas, entre outros. (BELLO FILHO, 2006).

As ações humanas, no meio ambiente, também envolvendo as novas tecnologias, demonstram um crescente comprometimento da qualidade de vida e da continuidade de vida no Planeta. A análise que precisa ser feita é sobre a proporção com que as novas tecnologias são usadas. Há uma contribuição maior nas soluções dos problemas ambientais ou na criação de novos problemas?
Valer-se das novas tecnologias com o objetivo de humanização é agregar-lhe o valor de contribuinte na solução dos problemas. O diferencial está nas mãos de seres humanos, que criam e se valem das tecnologias para facilitar sua adaptabilidade, mas, antes disso, está o pensamento. Que mundo o ser humano quer para si? Quais suas concepções e desejos?
Reduzir os problemas ambientais a propostas educacionais ou a um problema técnico, este, supostamente fácil de ser resolvido com tecnologias avançadas, ou estritamente ecológico, é limitar um tema resultante de diversos fatores (econômicos, políticos, culturais, sociais, ecológicos) e desconsiderar que a questão ambiental tem a opção das decisões e escolhas político-econômicas e não apenas técnicas. A questão ambiental é, portanto, uma questão técnica, sim, mas também econômica, política, cultural e social.
A Educação precisa de novos projetos para dar conta dos novos desafios e, para isso, tem a seu favor tecnologias avançadas, mas precisa manter presente o que Freire (1997) defendeu tanto em educação quanto em política: “o coração”. É preciso ligar a mão do homem à sua razão, pela emoção. A inteligência emocional é tão fundamental em um contexto que urgem ações que restitua ao ser humano “o acesso a uma natureza e a um homem pacificado”. (CARVALHO. 1991, p. 21).
Outro ponto bastante vulnerável está presente em determinadas propostas educacionais para o ambiente, como a de ressaltar os problemas relacionados ao consumo em detrimento dos problemas ligados à produção, ponto de origem de todo o processo industrial onde se decide o que, quanto e como produzir.
Para Carvalho (idem), nessa visão reducionista, o consumidor é sempre o culpado e, consequentemente, responsável pelo desequilíbrio do meio ambiente. Essa concepção é reforçada pelas novas tecnologias, quando se produzem programas televisivos, sabendo-se que 90% dos expectadores são consumidores, ou quando se disponibilizam textos informativos sobre o meio ambiente, na internet, sabendo-se que a população consumidora dessas informações são iniciantes, estudantes, pessoas em fase de formação de conceitos.
Para o mesmo autor, é uma transferência injusta de responsabilidades, porque a questão não é tratada na sua essência, na sua verdade, evitando tocar nas múltiplas dimensões do problema, especialmente a dimensão produção/consumo, e não apenas consumo. Faz-se necessário perceber que educar para o ambiente com a contribuição das novas tecnologias exige uma compreensão mais integrada do sistema de produção/consumo, com enfoque que privilegie a esfera da produção (causa) em lugar da esfera do consumo (efeito).

 [...] a Educação Ambiental, para ser Educação crítica e transformadora, Educação emancipatória, tem de ser um processo que busque a sustentabilidade, que seja pautado pelo paradigma científico e social da complexidade, que tenha, como diretriz, promover um processo de conscientização, que crie condições radicais de participação de todos os sujeitos envolvidos, de continuidade, que se organize sob o princípio da cooperação e realize esforços para superar a fragmentação do conhecimento, isto é, que se organize sob a lógica da interdisciplinaridade. (TOZONI-REIS, 2006, p. 45)

Há a necessidade de provocar práticas que trabalhem a crítica e a resistência à reprodução e dominação ideológicas. Para isso a escola precisa ser um espaço possível e importante de luta, com um paradigma de educação democrática, participativa, crítica, transformadora, e ética; uma educação comprometida com a vida, a liberdade e o interesse da maioria da população, politizando a questão ambiental e não apenas apontando os problemas e criticando as ações humanas.
Contudo, as práticas utilizadas em um grande número de instituições escolares priorizam o conhecimento científico. Mais uma vez, teorias como as de Freire se dissolvem no ar. Há um fenômeno de esquecimento de que o ser humano é um todo, dentro ou fora dos espaços escolares. O coração, as emoções, a beleza e a vida, no seu sentido mais amplo, pouco são trabalhados ou mesmo considerados, nas atividades ditas “escolares”.
Bastante do conhecimento, cientificamente elaborado, perde-se em discursos, em seminários, em eventos pomposos, sem ser aplicado na efetiva construção da sociedade. Entre as teorias de discurso, perdem-se aquelas que favoreceriam a construção de uma sociedade humanizada se transformadas em paradigmas.

A exclusão social tem aumentado. Ela significa a concretização da ameaça de contínua marginalização de grupos até recentemente integrados ao padrão de desenvolvimento. Enquanto isso, a revolução nas tecnologias de informação e comunicação eleva aspirações de consumo de grande parte da população mundial, inclusive dos excluídos. (OLIVEIRA, 2006, p. 209).


A espécie humana precisa perceber que “há duas grandes comunidades às quais pertencemos: todos nós somos membros da raça humana e todos nós fazemos parte da biosfera global.” (CAPRA. 2005, p. 232). Há que se planejar as ações para se viver em harmonia com as outras espécies. Para isso é preciso desenvolver a capacidade de se poder viver com autonomia e com o máximo de auto-estima. A autonomia humana é essencial para a preservação do planeta, porque, enquanto o ser humano não for capaz de cuidar de cada metro cúbico de onde vive, nunca poderá participar, com êxito, da preservação da vida e do meio ambiente. Para a sobrevivência individual e planetária, é preciso proporcionar, ao ser humano, a oportunidade de uma ética individual, para que ele desenvolva uma ética global.
Com o advento da tecnologia, educadores e ambientalistas precisam desenvolver metodologias que aliem a ciência e a técnica à prática social, para tentarem unificar o que a cultura capitalista fragmentou e continua fragmentando. (SENAC, 2006). É imprescindível avaliar as ações humanas e agregar todos os valores, para se criarem vínculos afetivos com o ambiente, uma idéia que pode parecer contraditória à tecnologia, mas que não é, se essa tecnologia for mais um instrumento contribuinte no processo de desenvolvimento do senso de responsabilidade em cada ser humano. (ALCANTARA, 2006).
Quando se diz que o objetivo da Educação Ambiental é a construção das sociedades sustentáveis, ecologicamente equilibradas e socialmente justas, é ter-se a intenção de trabalhar para uma vida de boa qualidade para todos. Nas sociedades contemporâneas, onde as diferenças são cada vez mais defendidas por teorias e por leis, na medida em que essas diferenças efetivamente aumentam, a Educação Ambiental fica fragilizada. Essa afirmação tem fundamento na realidade de miséria em que a grande massa humana (sobre)vive, enquanto que pequenos grupos esbanjam alimentos, conforto, lazer. Não cabem, no mesmo cenário, “uma sociedade ecologicamente equilibrada e socialmente justa” e “miséria”. (BELLO FILHO, 2006).
Para a Escola pensar em fazer educação com projetos de meio ambiente, em comunidades miseráveis, é ilusão. É preciso, por uma questão de cidadania, trabalhar para erradicar a miséria. Sem isso, dificilmente o ser humano terá acesso à educação e, em conseqüência, não desenvolverá uma consciência ecológica. A defesa da vida exige não apenas a preservação do ambiente físico, mas a defesa do ser humano. A mentalidade ecológica de nada vale se deixa o ser humano á margem. Nenhuma mentalidade ecológica resiste à miséria, à fome e à exclusão social. (DAMINELLI e SILVA, 2006).

Qual é o sonho da sociedade civil mundial [...]? É a inclusão de todas as pessoas na família humana, morando juntos na mesma e única Casa Comum, a Terra.  [...]. O sonho de uma nova aliança dos homens com os demais seres vivos da natureza, plantas animais, aves, entendendo-os, verdadeiramente, como irmãos e irmãs na imensa cadeia da vida, da qual somos um elo entre outros. O sonho de uma economia política do suficiente e do decente para todos, incluindo os demais organismos vivos. (LEONARDO BOFF, 2006, p. 79).

Para que esse sonho se torne realidade, é preciso despir-se das atitudes como a ganância, a inveja, o poder, a arrogância e a violência contra si e contra os outros. E isso perpassa pela construção de uma nova cultura, a cultura de uma sociedade cidadã, que pressupõe pensar gerações futuras. Portanto, uma nova consciência ambiental para se garantir uma sadia qualidade de vida.

A situação do meio ambiente está para uma interdependência global, assim como precisa ser tratada com os princípios da sustentabilidade, para que sejam atendidas suas necessidades básicas; para que haja crescimento econômico em regiões mais pobres com a proteção da natureza e a tecnologia atenda às necessidades humanas e ambientais. É preciso possibilitar o desenvolvimento, mas com a preservação e a conservação do meio ambiente. (DAMINELLI e SILVA, 2006).

“Só será possível sonhar com uma sociedade onde caibam todos se também nossos modos de conhecer conduzirem a uma visão do mundo na qual caibam muitos mundos do conhecimento e do comportamento”. (ASSMANN, 1998).
O avanço tecnológico é inevitável e voltar para praticas sem tecnologia é ilusão. Não volta. É preciso distinguir entre desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento científico. No científico que define é o paradigma. No tecnológico o interesse é econômico, político. Se quisermos um mundo melhor (de paz e sem fome), não depende da tecnologia, e sim do humano. Precisa que os homens sejam melhores. É uma questão ética. Melhorar as pessoas. E a Educação é o caminho.
Assim, as crianças em fase escolar podem aprender a usar a tecnologia avançada para, também, perceberem o seu papel no planeta, enquanto agentes sociais, portanto, agentes econômicos, políticos, culturais e responsáveis pela qualidade de vida, que pressupõe a conservação dos recursos naturais.
Se os elementos básicos para o processo de aprendizagem são a necessidade, o interesse, a motivação e a experiência, trabalhar a criança com as ferramentas que lhe são familiares e envolver questões de vida, como é o meio ambiente, é manter presente esses elementos todos. Além disso, favorecer o desenvolvimento de uma comunidade educacional interativa é oportunizar o exercício da cidadania.
O limite das inovações tecnológicas deveria estar em todos os aspectos da vida humana, sem ameaças e violências, mas, sim, para um crescimento digno da humanidade. A dignidade da pessoa humana é um fator que se deve considerar sempre, porque é essencial para a construção de uma sociedade justa, sem crimes, fomes, ou guerras. A educação é uma oportunidade de situações que fazem o povo pensar, dialogar, criticar, analisar. E os educadores, responsáveis pelo processo do ensino, precisam estar atentos aos verdadeiros fins da educação, que é de propiciar, ao ser humano, o ser livre e feliz. (SENAC, 2006).

Bibliografia:
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CARVALHO. D. (Org.). A arte no século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo; Unesp, 1997.

CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 2005.

DAMINELLI, R. M.; SILVA, S. M. Casos de Sucesso na Educação Ambiental. Curitiba: IESDE BRASIL S. A., 2006.

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GÓMEZ. Los límites de la ciencia en De Caín a la clonación. Buenos Aires: Altamira, 2001, 193-207.

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HISSA, E. V. Org. Saberes Ambientais. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

HORGAN, El fin de la ciencia. Los límites del conocimiento en el declive de la era científica. Barcelona: Paidós 1998 (cap. 1 y 2)

LINS, M. J. S. C. A estrutura da inteligência do pré-escolar segundo Piaget. Rio de Janeiro: Anima, 1984.

OLIVEIRA, P. S. Introdução à sociologia. 20. ed. São Paulo: Ática, 2001.

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SENAC. Mídia e tecnologias na educação. Porto Alegre: SENAC – 2006

SILVA, N. K. T. Educação ambiental e cidadania. Curitiba: IESDE, 2006.

TOZONI-REIS, M. F. C. Metodologias aplicadas à educação ambiental. Curitiba: IESDE, 2006.

Narrativas de Distopia: Reflexões sobre o Mundo Atual na Ficção

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